Revista Raça Brasil

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Mães pretas e seu poder na atualidade

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

Os dias que antecedem o segundo domingo de maio, data em que é celebrado o Dia das Mães no Brasil, os meios de comunicação são inundados por mensagens, propagandas, cards e promoções cujo objetivo maior é reverenciar a maternidade por meio do consumo. 

É presente de todo tipo e pra todo gosto!

Isso nos faz lembrar, por exemplo, do quanto e quantas mulheres negras, em passado recente, deram suas vidas em defesa dos seus filhos/as de sangue e espirituais. Dentre as milhões de mães pretas anônimas que fazem do seu dia a dia uma verdadeira via crucis em defesa da vida, da igualdade e da liberdade, lembramos aqui algumas que não só se destacaram como dedicaram suas vidas ao bem comum. 

Mãe Stella de Oxóssi (Stela Maria de Azevedo), que celebrou 100 anos do seu nascimento no último de 02 de maio, é uma delas. Baiana, nascida em Salvador, não teve filhos naturais, mas encarnou como poucas a figura de mãe espiritual de centenas de filhos e filhas de santos, liderando por mais de 40 anos um dos maiores terreiros de Candomblé do Brasil, o Ilê Axé Opô Afonjá (Salvador/Ba). Mãe Stella, de forma firme e serena enfrentou de peito aberto a intolerância religiosa e o racismo, escreveu inúmeros livros, organizou e participou de inúmeros movimentos nacionais e internacionais, deixando um legado e um exemplo inestimável de coragem e determinação.   

Sueli Carneiro (Aparecida Sueli Carneiro), nascida em São Paulo, mãe de Luanda Carneiro Jacoel, é filosofa, escritora e ativista do movimento negro, respeitada e premiadíssima por sua atuação em defesa das mulheres negras e no combate ao racismo. Autora de uma das teses mais discutidas no mundo acadêmico “A construção do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser” (2005/USP). Foi laureada com o prêmio Bertha Lutz, em 2003 e possui o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília, dentre tantos outros conquistados mundo afora. É criadora e principal líder do Grupo Geledes – Instituto da Mulher Negra, fundado em 1988, (37 anos de existência) e considerada a maior e mais importante entidade dedicada às mulheres negras no país. Sueli tem sido referência e inspiração para milhares de mulheres mundo afora. 

Mãe Beata de Yemanjá (Beatriz Moreira Costa), nascida na Cidade de Cachoeira na Bahia, mãe de quatro filhos (Ivete, Maria das Dores, Adailton e Aderbal), os quais criou de forma exemplar, apesar das enormes dificuldades. Apesar de cachoeirana, era carioca por adoção, local onde viveu por quase 50 anos (1969/2017), onde não só criou os seus filhos, como fundou o terreiro Ilê Omiojuarô, em Nova Iguaçu. Além de trabalhadora doméstica, exerceu o ofício de costureira, manicure, cabeleireira, pintora e artesã, além de escritora e uma das maiores ativistas do movimento negro brasileiro, tendo sido Presidente da ONG Criola, (organização de mulheres negras que combate o racismo, o sexismo e a violência contra a mulher). Mãe Beata, como era conhecida, foi homenageada inúmeras vezes pelo Brasil, a exemplo do título de Personalidade Negra da Fundação Palmares, da Medalha Tiradentes pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, bem como foi tema da Escola de Samba Garras do Tigre na Cidade de Nova Iguaçu.

Yá Mukumbi/Dona Vilma (Vilma Santos de Oliveira), nascida na cidade de Jacarezinho, no Paraná, viveu a partir dos 11 anos de idade, na cidade de Londrina, onde fundou o Ilê Axé Ogum Megê, casou e teve 06 filhos/as (Gislene, Lincoln, Robson Eduardo, Patrícia Fernanda, Vanessa e Victor Jubiabá). Liderou o movimento negro paranaense por mais de 40 anos, presidiu o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Era uma promotora cultural por excelência, tendo criado inúmeros grupos de teatro, dança, música e gastronomia. Era uma referência nacional. E por isso mesmo foi vítima de uma das maiores barbaridades provocadas pela intolerância religiosa – Foi assassinada, no dia 03 de agosto de 2013, juntamente com sua mãe e sua neta, dentro de casa, por um vizinho, em surto psicótico contra a religião de matriz africana. 

Viva Dona Vilma e todas as mães pretas desse país!

Toca a zabumba que a terra é nossa! 

 

[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça].

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