O sol se despedia na Baía de Todos-os-Santos quando o Museu de Arte Moderna da Bahia viveu um daqueles momentos que parecem suspender o tempo. O que antes era a Praça do Pôr do Sol agora carrega o nome de Praça Maestro Letieres dos Santos Leite, eternizando no coração de Salvador o homem que fez a música afro-baiana ganhar o mundo.
A cerimônia, aberta ao público, foi mais que uma mudança de nome: foi um reencontro com a história, com a memória e com a energia viva de Letieres. Amigos, familiares, músicos e admiradores se juntaram para celebrar o maestro que transformou percussão em poesia e palco em território de liberdade.
O evento, oficializado pela Lei 14.691/2024 de autoria da deputada estadual Olívia Santana, antecedeu a tradicional Jam no MAM, que nesta noite ganhou um significado ainda mais profundo. A Orkestra Rumpilezz, criação de Letieres, subiu ao palco com 18 músicos e fez ecoar composições originais e releituras que carregavam tanto técnica quanto afeto. Logo depois, a Geleia Solar manteve acesa a chama da improvisação e da mistura de ritmos.
O momento mais emocionante veio quando a placa com o novo nome foi descerrada. Maria do Carmo, mãe do maestro, participou pela primeira vez de uma homenagem ao filho desde sua partida em 2021, vítima da covid-19. No dedo, o anel de Xangô que ele sempre carregava. “Ele era muito feliz aqui. Essa homenagem é linda e enche nosso coração”, disse, com a voz embargada.
A irmã, Líris Leitieres, lembrou que o MAM era uma “segunda casa” para ele: “Sempre foi o sonho dele trazer a música afrodiaspórica para este lugar, e ele conseguiu”.
Para o secretário de Cultura, Bruno Monteiro, eternizar o nome de Letieres nesse espaço é garantir que ele siga inspirando gerações. O diretor do IPAC, Marcelo Lemos, completou: “A cultura não vive só nos prédios. Ela vive nas pessoas, nos sons, nas memórias”.
Letieres Leite foi mais que um maestro: foi educador, pesquisador, mentor. Criador do método Universo Percussivo Baiano (UPB) e fundador da Rumpilezz, mostrou ao mundo a força dos tambores da Bahia. O clarinetista Ivan Sacerdote resumiu o sentimento de muitos: “Minha carreira tem muito de Letieres”.
No MAM, naquela noite, a música não era apenas som — era abraço, era lembrança, era resistência. E, enquanto o céu se tingia de laranja, todos sabiam que o pôr do sol agora teria sempre o nome de Letieres.