Revista Raça Brasil

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(Foto: reprodução/ Gshow)

Faty é cruel, sem sentimentos e muito inteligente. Será ela uma sociopata?

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Rachel Quintiliano

Editora do Portal Raça. Jornalista e escritora com quase 30 anos de experiência, tanto na comunicação corporativa quanto da imprensa, especialmente imprensa negra. Autora do livro ‘Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia’. É responsável por planejar os conteúdos do portal, assegurando a linha editorial e estratégia narrativa do grupo RAÇA.

Comportamento da personagem de Bella Campos (Maria de Fátima) no remake de Vale Tudo levanta debate sobre ambição, frieza emocional e traços sociopáticos

 

Confesso: não assisti à primeira versão da novela Vale Tudo. Mas agora, com Taís Araújo e Bella Campos como protagonistas do remake, não perco um capítulo. Há alguns episódios, chamou minha atenção a capacidade da personagem Maria de Fátima — ou Faty, como já é apelidada nas redes sociais — de aprender rápido e se adaptar a qualquer ambiente para alcançar seus objetivos.

Um exemplo disso foi o campeonato de xadrez na casa de seu alvo, Afonso. Sem pestanejar, ela aprendeu o jogo em uma semana e terminou a disputa em segundo lugar. A performance foi tão convincente que fiquei em dúvida se ela teria desistido de ganhar apenas para não criar inimizade com a futura cunhada, Heleninha Roitman. Era mais um movimento calculado no tabuleiro de sua escalada social.

Faty já havia demonstrado, em diversos momentos, que é capaz de tudo para “vencer na vida”. Vendeu a casa com a própria mãe ainda dentro, atropelou a assistente da mãe e chegou a colocar as mãos em quase 1 milhão de dólares. O que poderia ser apenas mais uma vilã clássica da teledramaturgia brasileira ganhou contornos ainda mais inquietantes à medida que sua frieza, sua ausência de empatia e sua lógica implacável vieram à tona.

O que diferencia Faty de outras vilãs icônicas é a combinação entre charme e falta absoluta de remorso. Sua capacidade de manipular pessoas — inclusive aquelas que diz amar — não vem apenas de sua beleza ou inteligência, mas da frieza estratégica com que movimenta cada peça à sua volta. A personagem não age por impulso: ela observa, simula emoções, finge vulnerabilidade. Essa construção tem feito com que muitos telespectadores, como eu, se perguntem: será Faty uma sociopata?

Segundo o site da Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa, “sociopatas seguem o mesmo padrão, em graus muito elevados, não sentindo remorso, podendo ser violentos e desconsiderando o que é certo e o que é errado… outro padrão é que se percebem como superiores, são egocêntricos e vaidosos. Muitas vezes utilizam carisma e charme para tirar proveito das situações. Podem ser também irresponsáveis e explosivos. Geralmente eles não cultivam amizades verdadeiras e os familiares e pessoas próximas sofrem muito com o seu comportamento”.

É claro que se trata de uma personagem de ficção — e o exagero dramático faz parte da boa novela. Mas a representação de Faty também pode ser um convite a refletirmos sobre o quanto, em diferentes esferas da vida real, ainda premiamos comportamentos narcisistas e antiéticos em nome do “sucesso”. E mais: como a televisão, ao mesmo tempo em que entretém, também levanta debates importantes sobre traços de personalidade que afetam relações familiares, afetivas e profissionais.

Se Faty é ou não uma sociopata, talvez nunca saberemos ao certo. Mas uma coisa é evidente: ela tem nos feito pensar — e muito — sobre o preço de uma ambição que não mede consequências. E isso, por si só,na minha condição de telespectadora, já faz deste remake um acerto.

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