Matheus Gomes, do PSOL, destaca necessidade de proteção para parlamentares negros

Matheus Gomes denunciou, pela sétima vez, ameaças de morte que vem sofrendo desde que assumiu seu mandato em Porto Alegre

Por: Isadora Santos

Desde que começou seu mandato, no início de 2021, o vereador negro Matheus Gomes, do PSOL de Porto Alegre, já recebeu sete ameaças de morte. No dia 27 de dezembro, Gomes recebeu um e-mail com novas ameaças, direcionada a ele e aos outros vereadores pertencentes à chamada bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

No início de dezembro, todos os vereadores da bancada já haviam denunciado as novas ameaças que receberam por e-mail de uma pessoa que escreveu ofensas racistas, homofóbicas, que afirmava ser do Rio de Janeiro e que ia comprar uma arma para ir à Porto Alegre executar os parlamentares. No conteúdo, o autor das ameaças afirmava conter todos os dados dos vereadores.

Matheus Gomes já encaminhou sete denúncias que ainda estão em investigação, mas sem conclusão de inquérito. À RAÇA, ele falou sobre as ameaças e deu detalhes sobre o acompanhamento das investigações, destacando a necessidade de programas para proteção de parlamentares negros que constantemente sofrem ameaças de morte.

RAÇA – Qual era o conteúdo da nova ameaça?

Matheus Gomes – A ameaça que recebi reafirma a existência da preparação de um ataque armado aos vereadores da Bancada Negra de Porto Alegre. Dessa vez, diferentemente da ameaça enviada em 6 de dezembro de 2021, apenas eu recebi no meu e-mail institucional. Agora, o ameaçador foi além, pois demonstra que acompanhou a repercussão de nossa resposta à ameaça anterior e também cita questões específicas da Câmara, mostrando conhecimento sobre o funcionamento da casa, o que é extremamente preocupante.

RAÇA – Vocês estão conseguindo acompanhar as investigações? Já existe algum indício de quem seja o responsável pelas ameaças?

Matheus Gomes – As investigações estão em andamento. Tivemos reunião com o Vice-Governador e o Secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira, onde cobramos um maior comprometimento da inteligência policial nesse processo. Em 2021, fiz seis denúncias de ameaças à Polícia Civil, mas, infelizmente, nenhuma resultou em ações diretas contra esses criminosos. O Estado deve usar de todos instrumentos possíveis para resolver esse caso, senão teremos configurado um quadro de omissão gravíssimo, um verdadeiro desleixo com a proteção da vida dessa nova geração de parlamentares negros.

RAÇA – O que tem sido feito pelas autoridades de segurança pública para garantir a integridade dos vereadores da bancada?

Matheus Gomes – Até o momento, somente as investigações que já citei. Apesar de ser um estado com comprovada atividade de grupos neonazistas e redes de ódio na deep weeb, o RS não possui qualquer programa específico para defesa de militantes pelos direitos humanos. No dia-a-dia, estamos pela nossa própria conta, sem apoio do Estado.

RAÇA – Acha que você pode ser um dos primeiros alvos do autor das ameaças por conta desse último e-mail direcionado a você?

Matheus Gomes – Estamos todos sob ameaça, eu e as vereadoras Karen Santos, Bruna Rodrigues, Daiana Santos e Laura Sito. Há um ódio a existência da primeira Bancada Negra da história de Porto Alegre. Eles não aceitam ver negros no exercício do poder político. Mas, terão que se acostumar, por que vamos resistir e defender o nosso direito democrático, também incentivando o movimento social negro a se organizar em auto-defesa, pois a violência contra nós é uma expressão no campo da política dessa violência cotidiana contra negras e negros.

RAÇA – O que os partidos, em especial o PSOL, têm feito para brigar pela segurança de candidatos e políticos negros? Há um consenso de que é preciso pensar a segurança desses grupos desde a candidatura até depois das eleições?

Matheus Gomes – Tenho exigido do PSOL a garantia de estrutura para que tenhamos medidas de segurança específicas no nosso cotidiano e o partido tem respondido positivamente. A violência política é uma realidade em todo o país, aliás, começa pelas palavras do próprio Presidente. Acredito que há consenso, mas só isso não nos serve. Um partido que não pensa e age na defesa das lideranças negras não está apto a ser portador de um projeto de poder contra essa quadrilha que hoje está no poder. É hora de atitude!

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