Médico é denunciado pelo árbitro por racismo em partida de futebol no estadual de MS

Vídeo flagrou momento que médico fala “é confusão esse neguinho aí, ele é confusão”. A diretoria do Crec afirmou ter afastado o acusado das atividades do Clube. Em menos de cinco dias, dois casos de racismo/injúria racial foram notificados em jogos do Sul-Mato-Grossense Série A.

“É confusão esse neguinho aí, ele é confusão”, diz o médico do Costa Rica, Marcus Andre dos Santos, se referindo ao árbitro Rosalino Francisco Sanca, na última partida entre Crec e Operário, realizada no dia 3 de março, pela a 9ª rodada do Campeonato Estadual Sul-mato-grossense de Futebol Série A, no Estádio Laertão. 

Este foi o segundo caso de racismo no futebol estadual, após o zagueiro da Portuguesa, Vinícius Machado, registrar Boletim de Ocorrência contra um Policial Militar, por falas racistas, durante uma partida da 7ª rodada.

Sanca, como é conhecido no meio esportivo, atuava como quarto árbitro do jogo e, cumprindo regras, solicitou que um homem, sentado em uma cadeira em frente a área restrita, que fica próxima à porta do vestiário da arbitragem, destinada apenas a pessoas autorizadas, saísse do local.

O pedido é atendido, sob reclamações, mas o homem pega a cadeira e sai do local. É neste momento que o médico do atual campeão estadual desfere um comentário com fala discriminatória.

“Ele é confusão esse neguinho aí, ele é confusão. E ele quer confusão”, disse Marcus, em tom de deboche.

A filmagem pega o exato momento da fala, mostrando a vítima ao fundo, enquanto Marcus caminha com as mãos para trás. O árbitro só soube da situação quando ouviu de testemunhas o que tinha acontecido e viu a filmagem.

“Essa ação não é apenas contra o ‘Sanca’, é contra a humanidade e todos os negros no mundo. Este é um caso que chegou diretamente a mim, foi um ataque a toda a comunidade negra. A justiça que quero é uma justiça reeducadora dos valores e princípios africanos”, disse Sanca.

Leandro Soares, advogado e representante legal do árbitro, explicou que o boletim de ocorrência já foi registrado e que aguarda a apuração da Polícia Civil Estadual sobre o caso.

No BO, registrado no dia 12 de março, o caso foi tipificado como “injuria qualificada pela raça, cor, etnia ou origem”, com base no Artigo 140, Parágrafo § 3º do CP.

Em nota de repúdio, a diretoria do Costa Rica afirmou estar ciente da gravidade das acusações, que está tomando as providência cabíveis e colaborando com as autoridades responsáveis para que o caso seja esclarecido “o mais rápido possível”. (Confira a nota na íntegra aqui).

“Até a apuração total do caso por parte das autoridades, o envolvido no episódio ficará afastado das atividades do clube” informou.

O vice-presidente e coordenador de competições da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), Marco Antonio Tavares, disse que a entidade esta aguardando o BO e a representação judicial do árbitro para dar seguimento ao processo no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD).

“Nosso repúdio é punir os culpados. Na rodada desse final de semana temos sim uma ação a ser realizada no jogo do Costa Rica. Balões pretos e brancos, crianças vestindo preto e branco”, completou.

O presidente do Sindárbitro-MS, Ernani Tomaz da Silva, repudiou a atitude e garantiu que a diretoria está prestando “total apoio” ao profissional.

“Esperamos que a polícia civil de Mato Grosso do Sul faça um trabalho eficaz de investigação e que as medidas necessárias sejam tomadas, para que os culpados possam ser punidos com o rigor da lei”, pontuou.

Ermani disse ainda que, situações como essa são inaceitáveis, ressaltando que “é dever de todos nós lutar pela erradicação do racismo e pela promoção de um ambiente inclusivo no futebol e na sociedade como um todo”.

Caso Portuguesa

A partida entre Náutico e Portuguesa, pela 7ª rodada do Estadual, no dia 29 de fevereiro, foi marcada pelo 1º caso, denunciado, de racismo. Vinícius Machado, zagueiro da Lusa, disse que foi ofendido por um Policial Militar, durante paralisação da partida.

O jogo foi parado após um princípio de confusão entre atletas dos dois times, ainda no primeiro tempo, por reclamações de um suposto pênalti não marcado para a Portuguesa.

Os ânimos acalmaram, no entanto, policiais militares que faziam a segurança do jogo, entraram em campo, sem a solicitação do árbitro da partida, e foram em direção a dois atletas da Lusa.

Jogadores se “amontoaram” próximos as autoridades e, conforme a assessoria de imprensa da Portuguesa, um dos policiais se referiu ao zagueiro de forma racista.

“De forma intimidadora, utilizando termo racista, segundo relato do jogador, dos colegas em campo e da torcida presentes”, alegou.

Vinícius Machado, junto ao time jurídico do Clube, formalizou a denúncia de racismo na manhã do dia seguinte.

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