“Meu filho tem pele branca e as pessoas nos fazem perguntas aterrorizantes”
Mãe conta os absurdos que ela e seu filho Otis escutam por terem tons distintos de pele
“Tem certeza que é a sua mamãe? Vocês são de cores diferentes!”. Essa foi a pergunta que uma professora de natação fez, dirigindo-se para Otis, então, um bebê de 4 meses. “Me deixou pasma”, contou a mãe dele, Rebecca Slater, em depoimento ao site Metro UK. “Meu instinto inicial foi rir, por causa do constrangimento, mas, com o passar do tempo, fiquei triste por ela só enxergar as cores, com raiva por ela ter sentido a necessidade de mencionar isso e frustrada com a insensibilidade”, acrescentou.
A mãe contou nesta semana que, quando engravidou, em 2015, ela só queria que seu bebê fosse saudável e o tom de pele que ele teria nem passava pela sua cabeça. O pequeno nasceu com a pele clara e olhos azuis. “Mas eu, realmente, nunca tinha pensado sobre a coloração dele, até aquele comentário na piscina, que me deixou cambaleando”, explica.
Depois disso, a mãe se tornou mais consciente sobre a possibilidade de as pessoas fazerem suposições ao observá-los. Então, passou a se certificar de que todo mundo sempre a ouvisse dizendo que é mãe do menino. Mas não importa o quanto você se prepare, as situações sempre acontecem – e são dolorosas.
“Certa vez, voltando das férias, quando passávamos pela alfândega, os policiais me pediram para parar e questionaram se Otis era meu filho”, relata. “Em um parque temático, o filho do meu amigo foi instruído a entrar no brinquedo com a ‘mamãe’, enquanto meu filho foi instruído desajeitadamente a ‘ir com a senhora com quem ele estava’”, diz.
Não é raro que as pessoas perguntem a ele se Rebecca é sua mãe. “Soa como uma pergunta inócua, mas, quando você repara que famílias que não têm raças misturadas não escutam as mesmas questões, parece mais do que isso”, analisa. “Eu sei que, geralmente, as pessoas não querem ofender, mas, como meu filho, agora com sete anos, ficou mais velho, ele está mais ciente de nossos diferentes tons de pele e dos comentários que as pessoas fazem sobre esse assunto”, afirma a mãe.
Rebecca é negra e a mãe dela era branca. Então, ela diz que sabe como é ter uma mãe que as pessoas presumem que não seja sua mãe e sim uma pessoa que está cuidando de você. “Quando eu era criança, grande parte da sociedade não aceitava relacionamentos entre pessoas de raças misturadas, então, sei que minha mãe ouvia comentários sobre ter uma filha mestiça – e que as pessoas presumiam que ela era babá”, aponta.
Até o ano passado, Otis dizia para os pais que era branco. Com o tempo, os pais foram conversando com ele e explicando que, embora ele parecesse branco, ainda tinha origem negra e parda. “É importante para nós que nosso filho saiba que não podemos saber tudo sobre as pessoas apenas pela aparência. Mas foi difícil para ele conectar o que dissemos com o menino de pele branca e olhos azuis que ele viu no espelho”, relata a mãe. “Para ajudá-lo a entender sua negritude, garantimos que todas as perguntas sobre raça e cor sejam respondidas honestamente”, afirma.
“Em uma sociedade multicultural, todos devemos nos sentir à vontade para conversar com nossos filhos sobre raça – não basta declarar que seus filhos ‘não veem cor’ e não discuti-la”, aponta a mãe.
Rebecca também lembrou de uma experiência positiva, que aconteceu enquanto a família estava de férias. “Um garçom se aproximou e disse: ‘uau, parece que alguém copiou e colou’, sugerindo que meu filho e eu éramos iguais. Para muitas pessoas, isso, provavelmente, acontece com frequência, mas é extremamente raro as pessoas comentarem sobre nossas semelhanças e não sobre nossas diferenças, então isso me encheu de alegria”, conta.
“O fato de Otis parecer branco é, de certa forma, um conforto para mim. É improvável que ele experimente coisas que eu tenho que experimentar – como calúnias raciais enquanto caminho pela rua. Mas isso também vem com perigo – há muitos racistas que não dizem nada negativo na cara de uma pessoa preta, mas fazem comentários para pessoas que eles assumem serem brancas. Portanto, meu filho pode ouvir linguagem humilhante e piadas discriminatórias sobre minorias étnicas, de pessoas que não sabem de sua negritude. Isso o colocará em uma situação potencialmente perigosa em que ele terá que tomar a decisão de permanecer em silêncio e ser cúmplice do comportamento, ou falar e correr o risco de perder a amizade ou coisas piores”, explica.
A fé que Rebecca tem no homem que seu filho vai ser é grande, mas isso não a impede de se preocupar sobre como ele se relacionará com ele mesmo e com sua extensa família negra e parda. “Agora, quando as pessoas perguntam se ele é meu ou comentam sobre nossas diferenças, ainda sinto um leve sentimento de tristeza ou irritação. Mas apenas sorrio e digo com orgulho ‘sim’, assim como ele”, completa.