Ministros negros do governo Lula se reúnem em Salvador em conferência

Com a presença de três ministros de Estado, Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, Margareth Menezes, da Cultura, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, a cidade de Salvador recebeu esta semana a Conferência Diáspora Africana nas Américas – diáspora africana é o termo utilizado da dispersão de cidadãos africanos pelo mundo ao longo da história, principalmente por conta do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas, o que impactou profundamente a diversidade cultural e as expressões artísticas, religiosas e sociais de diversos países. 

O encontro, além de reunir lideranças políticas locais, como a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Angela Guimarães, no ato representando o governador do estado da Bahia Jerônimo Rodrigues, serviu também para unir lideranças nacionais e internacionais em temas comuns nesses países. Compareceram delegações de vários países da América Latina, representantes dos Estados Unidos e de dezenas de países africanos para discutir o futuro das políticas que envolvem África e seus descendentes na diáspora africana, como ressaltou o representante da União Africana o miministro das Relações Exteriores do Togo, Robert Dussey presente ao encontro.

Vários temas foram debatidos, refletindo sobre o ontem, o hoje e o amanhã de africanos e afrodescendentes na diáspora. Também foram lembrados nomes e ideais de pessoas que lutaram e lutam até hoje para que a dívida histórica e impagável com nosso povo seja discutida nos planos de governo dos países que lucraram e se desenvolveram com o tráfico negreiro. Países por exemplo como o Brasil, maior país negro fora da África e último país do mundo a abolir a escravização, e que construiu grande parte de suas riquezas com o sangue dos escravizados retirados dos países africanos. 

Foi dia também de reencontrar representantes de organizações internacionais e regionais, acadêmicos, ativistas e personalidades da cultura de diversas gerações, como o professor Kabengele Munanga, congolês que, ao lado do geógrafo Milton Santos, era um dos raros professores negros da Universidade de São Paulo (USP) nos anos 1980, quase cem anos após a abolição de escravidão negra em nosso país, universidade essa que ainda padece da presença de docentes negros em seus quadros.

Os debates se deram principalmente em quatro temas centrais: Memória, Pan-Africanismo, Restituição, além de Reparação e Reconstrução. O principal foco das discussões é o desenvolvimento sustentável das nações africanas e das comunidades afrodescendentes nas Américas, como o Brasil. Além disso, o incentivo e a troca de conhecimentos e experiências, reforçar identidades culturais e facilitar parcerias transnacionais focadas em tecnologia, educação e saúde. 

Há muito ainda a ser realizado para a construção de uma sociedade justa e igualitária em países como Brasil, Estados Unidos e em toda a diáspora africana, mas o reconhecimento da dívida histórica com os descendentes dos escravizados africanos, assim como a dívida com os países africanos que até os dias de hoje pagam as consequências do escravismo genocida que perdurou por quase 400 anos, já é um bom começo.

Comentários

Comentários

About Author /

jornalista CEO e presidente do Conselho editorial da revista RAÇA Brasil, analista das áreas de Diversidade e inclusão do jornal da CNN e colunista da revista IstoÉ Dinheiro

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?