Movimento Negro: para onde vai?

O ano de 2024, não foi brincadeira para o movimento negro brasileiro. Vivemos momentos difíceis e emocionantes. As lacrações e os cancelamentos estiveram presentes em boa parte da sua agenda.

Um dos grandes expoentes em ascensão do movimento negro, o ex ministro Silvio Almeida, foi cancelado, linchado em praça pública e demitido sumariamente do cargo, por conta de acusações de uma outra ministra, também negra. A intolerância, a violência e as desigualdades de todas as ordens: social, econômica e racial, transformaram-se em rotina abençoada pela extrema direita.  

Inúmeros influencer’s negros/as que eram incensados como os novos messias a anunciar um novo tempo de fama e prosperidade para a negrada foram parar na cadeia ou anunciaram em alto e bom som que são adeptos da extrema direita brasileira e que estão se lixando para as nossas causas e reivindicações.

Mas, também tivemos gratas surpresas, como a desse jovem futebolista, o Vini Jr que tem enfrentado o mais poderoso lobby conservador e racista no âmbito dos esportes, que é o do futebol europeu, liderado pela Espanha e que sem arredar pé um milímetro das suas posições, conquistou o título de maior jogador em atividade, além de impor uma derrota sem tamanho ao racismo nos estádios de futebol. 

Outro dado positivo, é que o racismo institucional no Brasil vem sendo combatido com vigor, (exceção para a violência policial que continua abatendo jovens negros como se fosse gado). Vários programas de combate àdiscriminação racial, com ênfase para novas políticas de ações afirmativas para a educação e o emprego, também estiveram presentes nas preocupações governamentais. 

Mas, ainda assim, “viver vale a pena quando a alma não é pequena”, diria o poeta. E tivemos muita gente generosa, corajosa e afetuosa que fez do ano de 2024, mais um ano de luta e esperança. Ou seja, um mundo melhor é possível, se tivermos foco, coragem e determinação para seguir com a nossa luta, sem se deixar encantar com os holofotes das redes sociais ou da subalternidade bondosa para com as novas princesas isabéis. 

Para tanto, o movimento negro brasileiro, assim como boa parte da esquerda, terá que se renovar e em certa medida se reinventar. Até porque, os racistas de plantão, conseguiram fazer isso com grande maestria.  

Encontrar novas ideias, para velhas pautas. Novos caminhos, para se livrar das velhas armadilhas. E novos aliados para fazer avançar a velha luta por igualdade e respeito, são temas que continuam na agenda. 

Afinal, o racismo não é nenhuma novidade. A novidade são as novas formas com que ele tem se manifestado e até mesmo conquistado o apoio das suas vítimas. 

Isso porque, sem que entendamos a dimensão política do neoliberalismo, que produz vítimas não apenas no campo econômico com a precarização do trabalho e a expansão da miséria, mas também no campo religioso, com sua intolerância e teoria da prosperidade, onde a responsabilidade da discriminação e exclusão passam a ser das próprias vítimas, não conseguiremos derrotar essa nova onda racista e fascista. 

E para tanto, um ingrediente é fundamental – a Democracia. Sem democracia a nossa chance de sairmos vitoriosos nessa quadra histórica, é quase nenhuma. É com ela e por meio dela que poderemos fazer com que a justiça, a igualdade e o respeito, sejam faróis que iluminem o ano de 2025. 

Toca a zabumba que a terá é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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