Revista Raça Brasil

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Movimento negro rompe barreiras e conquista espaço histórico na ONU

Nem sempre as grandes vitórias começam com discursos em palcos internacionais. Às vezes, elas nascem no silêncio das dores compartilhadas, no cansaço de quem luta há séculos para ser visto, ouvido e respeitado.

Foi assim que, com coragem e articulação, o movimento negro conquistou um feito histórico: a criação de um grupo próprio de afrodescendentes na ONU, um espaço oficial e permanente para que as vozes negras estejam presentes nas decisões que moldam o futuro do mundo.

Esse avanço não veio de cima. Veio de mãos dadas, de encontros, de articulações entre organizações negras de diferentes partes do planeta — todas lideradas, neste processo, pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, que levantou com firmeza uma bandeira que é de todos nós: sem enfrentar o racismo, não há desenvolvimento sustentável.

Agora, pela primeira vez, a ONU reconhece isso institucionalmente. O Stakeholder Group de Afrodescendentes foi oficialmente aprovado e passa a integrar os grupos de interesse reconhecidos pela organização — como mulheres, indígenas, juventude, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e migrantes.

Esse grupo não é só um título. Ele representa um lugar que sempre foi nosso por direito, mas que tantas vezes nos foi negado.

“Essa conquista é um marco. O racismo sempre foi deixado de lado nas discussões globais. Ter esse espaço agora significa reconhecer que não dá pra falar de justiça, de clima ou de futuro sem olhar para o povo negro”, diz Letícia Leobet, socióloga e assessora internacional do Geledés.

A jornada começou em setembro de 2023, com o evento “Não há desenvolvimento sustentável sem enfrentar o racismo”, em Nova York. De lá pra cá, o movimento cresceu. Recebeu apoio do Itamaraty, do Ministério da Igualdade Racial, de pessoas e instituições que entenderam que essa luta é coletiva — e urgente.

Agora, a presença negra na ONU não será apenas simbólica. Será ativa, propositiva, legítima. A partir deste novo espaço, será possível contribuir, monitorar e cobrar políticas públicas globais que considerem — de fato — a população afrodescendente.

Esse passo não apaga as feridas da história, mas honra a memória de quem veio antes e planta novas sementes de justiça para quem virá depois.

É sobre ocupar espaços, sim. Mas, acima de tudo, é sobre reivindicar humanidade em um mundo que tantas vezes tentou nos desumanizar.

Essa conquista é do movimento. Mas também é sua. É nossa.

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