Mukunã: Do estereótipo ao empreendedorismo em moda e beleza!
Grande parte dos afroempreendimentos no Brasil nasce pela necessidade financeira e com a Mukunã Laboratório Capilar não foi diferente. Durante um encontro de estudantes de Comunicação Social em Teresina – PI, em meio às palestras e debates políticos, Ana Vitória e Cláudio Argolo, idealizadores da marca, tiveram a ideia de oferecer serviços de construção de dreadlocks e dreads de lã para cobrir as despesas da ida ao evento. De volta a Salvador, resolveram fazer os próprios dreadlocks, mas com a mudança na aparência passaram a ter dificuldades para encontrar emprego. Nessa lacuna provocada pelo mercado de trabalho, que ainda tem o racismo como estrutura, aquilo que antes era apenas um complemento de renda, passou a ser a principal fonte de sustento. Assim, a Mukunã – palavra que significa cabelo em Yorubá – hoje é um Laboratório Capilar, com uma equipe de profissionais composta por pessoas negras e LGBT’s, que gera conexões com outrxs empreendedoras de histórias semelhantes e juntas atraem públicos que também se identificam com o discurso da marca.
Além dos cuidados estéticos, oferecidos no estúdio Mukunã, o editorial de moda é uma das linguagens que o grupo elaborou para construir representatividade e, por meio das fotografias, passaram a tecer relações colaborativas com outras pessoas negras empreendedoras na cidade de Salvador. Os editoriais propõem visibilizar especialmente os tipos de cabelos que não são vistos em TV’s e Revistas, a não ser que seja de forma estereotipada, associados ao desleixo e a falta de higiene. De um modo geral, os dreadlocks não aparecem na publicidade nem nas propagandas de tintura ou shampoo, mas, compreendendo que a representatividade é necessária no desenvolvimento da auto-estima, a Mukunã entende que estar presente no mundo da moda é desafiador, no entanto, se faz necessário ocupar espaço para desconstruir os estereótipos e registrar a diversidade de tipos de cabelos crespos e dreadlocks.
Ana Vitória e Cláudio Argolo analisam que “Por conta de todo o apagamento histórico que o nosso povo passou, as pessoas negras não sabem a forma correta de cuidar do próprio cabelo, justamente porque não nos foi ensinado. O dreadlock (principalmente no cabelo crespo) passa inicialmente pela dificuldade de existir sob as lentes do racismo, que reproduz que esse é um tipo de cabelo sujo e mal cuidado. Por isso nos agarramos à missão de mostrar justamente o contrário, a partir do momento em que ampliamos as possibilidades de existência do cabelo crespo e dos dreadlocks, passamos a existir, resistir, e ganhar visibilidade! ”.
Transitando do estereótipo ao empreendedorismo em moda e beleza, no site da Mukunã Laboratório Capilar, é possível conferir textos sobre a história dos locks nas diversas culturas, comprar acessórios ou dreadlocks confeccionados artesanalmente com agulha em cabelos naturais, sem utilização de linha, cera ou quaisquer elementos facilitadores, e os cosméticos orgânicos e veganos, feitos artesanalmente com óleos vegetais e essências com propriedades terapêuticas atendem às necessidades muito específicas dos dreadlocks. Podemos conferir também os editoriais de moda já lançados e o Editorial Spatium, último trabalho da marca que trago pra você conferir! O conceito já se percebe pelo nome que vem do latim: ‘Spatium’, que significa es·pa·ço: Área que está no intervalo entre limites. Esse lindo trabalho, com fotografia de Fernando Zome e Samir Pereira, traz como modelos a produtora de moda Marie Silva e a performer Rogério Teodoro (Ah Teodoro), vestindo as peças Carol Barreto para nos questionar: Quais são os limites que tentam nos impor? Se há vida, há resistência, se há futuro, estaremos presentes, vivos!