Mulher Negra aqui tem voz

Sou Carol Nascimento, mulher preta, lésbica, fundadora e diretora da Rede Ablan, mas para que eu possa contar sobre a Rede, preciso voltar no dia 22 de fevereiro de 2016, o dia que Valentyna nasceu, ela nasceu de parto normal, com bom peso e tamanho, e assim depois de 48 fomos para casa, mas em alguns dias, ela começou a ter crises, ficava com aparecia de morta, além de assustador, era um desafio, fomos para o Rio de Janeiro a procura de um tratamento, pois as crises eram bem presentes, e não se sabia ao certo o que era, foram dois anos de muitas idas e vindas em hospitais e muitos exames, até chegarem ao estudo da Catalepsia, que é uma condição transitória na qual o paciente apresenta uma incapacidade na movimentação dos membros, na cabeça ou até na fala. Em alguns casos, podem ser confundidos com a morte, pois a respiração também é afetada

Mesmo com essa condição, Valentyna era uma criança muito feliz, amorosa, muito educada e parecia já saber a sua missão.

Em outubro de 2018 ela fez uma crise muito forte que a levou ela para o CTI por muito tempo, Valentyna precisou ser entubada e neste mesmo período, eu descobri após muitos exames que eu tinha um tumor na fíbula direita, este período assustador foi importante, porque eu precisei resgatar a minha fé, não é sobre religião, é sobre acreditar, mesmo quando tudo parece não ter mais jeito, não queria sair de certa forma de perto da minha filha, então eu a princípio não queria me tratar, eu não ia conseguir deixar a minha filha naquele momento, então foi a fé que me fez a questionar a Deus, queria entender os propósitos que ele tinha em minha vida, porque se Ele dizia que tudo ia dar certo, então porque tá tinha sofrimento,

e foi aí que Deus colocou em minha vida, outras mães, que ali estavam também com seus filhos, diariamente a gente tinha altos e baixos, algumas despedidas dolorosas , mas de certa forma, eu fui acolhida por outras mães, compartilhavamos nossas experiências, falávamos sobre a maternidade que não é romântica, mas é prazerosa.

Minha filha começou a melhorar e o quadro ia ficando positivo até chegar o dia dela sair do hospital, e aí sim, fui em busca do meu tratamento, e não foi um período fácil, o tratamento era pesado, mas eu tenho uma Rede de apoio, família e amigos que estiveram comigo em todos os períodos, eu sabia que não seria fácil, mas desistir não era a minha escolha, em agosto de 2019 eu fui liberada do tratamento, e no dia 9 de setembro, Valentyna partiu, ela cumpriu a sua missão, em meio as dores e lembranças, eu só agradeci e agradeço até hoje por ter sido escolhida para cumprir o papel de mãe de Valentyna Ablan, todos sabemos que o luto é como montanha russa, as vezes temos altos e baixos e os baixos são cruéis, se a saudade não for sua aliada, ela te derruba, então resolvi unir mães, um mês depois que Valentyna partiu, para falar sobre maternidade, foi uma experiência incrível, escutar e compartilhar é um caminho de amor, logo depois quis acolher as mães que muitas vezes sao solo, e responsaveis de pessoas com deficiência, e assim surgiu a Rede Ablan, que atua hoje em Quatis e região,

além do apoio psicológico, temos o sócio assistencial, doamos alimentos, leite, fralda, cadeira de rodas e higiene, a Rede Ablan tem um produto chamado Corações que falam, então a gente se reunie junto com as famílias e profissionais e fazemos rodas de conversa, a Rede Ablan é uma homenagem a minha filha Valentyna Ablan, a borboleta azul é a leitura da vida dela aqui conosco e as três estrelas significa ma idade que ela se foi, 3 anos , o coração da Valentyna bate todos os dias nos lares que a Rede chega, a Rede Ablan é a continuação e a memória da minha filha.

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