Dizem que “a primeira impressão é a que fica”. No caso da mulher negra, a primeira, a segunda, a terceira e até a centésima impressão precisam ser impecáveis, porque basta um detalhe fora do lugar e o julgamento vem mais rápido que notificação de noticia ruim.
Ser mulher negra na sociedade é viver um contrato social invisível que ninguém te entrega para assinar, mas todo mundo cobra que você cumpra: estar sempre arrumada, sempre com o cabelo perfeito, maquiagem no ponto e roupa alinhada. Isso porque sabemos que, se não estivermos assim, corremos o risco de não sermos levadas a sério, ou até mesmo sofrermos repressão do lugar em que estamos.
Enquanto isso, mulheres brancas podem, tranquilamente, entrar em um shopping usando chinelo, coque desarrumado e camiseta do “Eu amo Porto Seguro” que ganhou na viagem de 2008. E ninguém ousa olhar atravessado. Já nós, mesmo impecáveis, salto, look de revista e cabelo digno de capa de Revista ainda sentimos aquele olhar de “o que ela está fazendo aqui?”.
É como se a nossa aparência fosse um passe provisório para circular em certos espaços. Um passe que, aliás, expira rápido, porque basta um fio de cabelo fora do lugar para as portas da “cordialidade” se fecharem. Isso sem contar que, mesmo estando no nosso melhor, ainda não estamos livres do racismo — aquele que aparece disfarçado de “brincadeira”, de “comentário inocente” ou simplesmente no silêncio desconfortável quando entramos em certos ambientes.
E não é só sobre roupa ou cabelo, é sobre o peso de provar, todos os dias, que merecemos estar onde estamos. Provar que somos capazes, inteligentes e profissionais coisas que, para outras pessoas, já são presumidas. No fundo, a sociedade exige que a mulher negra seja impecável não para celebrar nossa beleza, mas para tentar “compensar” um preconceito que não é nosso para carregar.
Então, fica aqui o recado: podemos, sim, escolher estar impecáveis, porque amamos nosso brilho, mas que seja por nós não para garantir aprovação de quem já nos olha torto por existir. Afinal, olha bem para nós, nossa pele, nossa cor é nosso assessório. Até básica nós estamos deslumbrantes!!