“Você é linda… nunca tinha ficado com uma negra.” Já ouvi essa frase mais vezes do que gostaria de contar e com certeza a maioria das mulheres negras tbm. No começo, eu até sorria, meio sem graça, achando que era elogio. Depois percebi: era só exotificação. Não era sobre mim. Era sobre o “produto raro” que estava sendo consumido.
A mulher negra, historicamente, foi colocada num pedestal torto: aquele onde somos veneradas como corpos quentes, curvilíneos, exóticos — mas nunca como companhias para jantar com a família no domingo. E se for para jantar, melhor em silêncio, elegante, recatada, sem cabelo armado e, de preferência, mais “clara”.
A frase que dá título a este texto — e que infelizmente ainda ecoa em muitos contextos — não é só cruel. É um retrato fiel do racismo afetivo que ainda molda as escolhas de muitos homens. Eles desejam nossos corpos, mas não desejam nossas histórias. Nos querem na cama, mas não na vida. Oi? A escravidão já acabou, viu?
Tem um tipo de homem que é ótimo em nos elogiar no privado. Mensagem de madrugada, emoji de fogo, proposta indecente às 3h da manhã. Mas nos eventos sociais, ele chega de mãos dadas com a loira do escritório, ou a “morena” mais palatável para a família conservadora. E antes que alguém diga “ah, mas o amor não tem cor”: tem, sim. Tem cor, tem textura e tem cabelo crespo.
Isso não é só mimimi. É dado, é estatística, é realidade. Pesquisas mostram que as mulheres negras são as menos escolhidas em aplicativos de relacionamento, e as mais hipersexualizadas. Ao mesmo tempo, somos as que mais sustentam lares, cuidam de filhos, estudam, empreendem. Mas no jogo do amor, parece que estamos sempre jogando fora de casa — e com o juiz comprado.
E olha, antes que você pense que este é um manifesto amargo, te digo: é também um convite. Um convite à reflexão. Porque não dá mais pra romantizar o desejo escondido, a relação clandestina, o “fica entre nós, tá?”. Quem nos quiser, que nos queira por inteiro. De turbante e tudo.
A mulher negra é para amar, para andar de mãos dadas, para planejar viagem, dividir boletos e gargalhadas. E se ela for para “pegar” — que seja na mão, com respeito, em público. Sem vergonha. Porque vergonha, meu bem, é seguir preso a um padrão de beleza que nunca incluiu você — nem a mim.