Revista Raça Brasil

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Mulher negra viveu 22 anos sob exploração doméstica em Manaus

la começou aos 12 anos, nunca recebeu salário fixo e viveu isolada — agora, Justiça cobra reparação

Aos 12 anos, ela foi levada para a casa de uma família em Manaus com a promessa de que teria um lar, iria à escola e seria cuidada. Durante 22 anos, no entanto, o que viveu foi o oposto disso: trabalho sem salário, sem direitos, sem liberdade.

Hoje, com 34 anos, essa mulher negra finalmente foi resgatada de uma vida inteira de exploração. O caso aconteceu no bairro Ponta Negra, área nobre da capital amazonense, e está sendo investigado por uma força-tarefa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal (PF) e Defensoria Pública da União (DPU).

Segundo o MPT, os responsáveis devem indenizar a vítima por danos causados ao longo de mais de duas décadas. Eles também poderão ser processados criminalmente. O valor da indenização ainda não foi divulgado.

Infância roubada, juventude aprisionada

Durante todo esse tempo, a mulher foi mantida sem carteira assinada, sem salário fixo e sem acesso à escola. Cuidava da casa, dos patrões, fazia doces para a venda — tudo isso recebendo, no máximo, comida, moradia precária e pagamentos esporádicos. Nunca teve a chance de estudar, sonhar ou escolher outro caminho.

Ela dormia em um quarto sem guarda-roupa, sem ventilação, em condições insalubres. Em depoimento, relatou ter trabalhado descalça e, por vezes, sem acesso a itens básicos de higiene. Um ciclo de violência mascarado por promessas quebradas e manipulações emocionais.

As investigações começaram após denúncias anônimas feitas em maio, que levaram à operação de resgate realizada na quinta-feira, 5 de junho.

Após o resgate, a mulher recebeu apoio psicológico da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUSC) e pôde reencontrar sua família de origem.

Um Brasil que ainda aprisiona

O caso escancara o quanto a escravidão moderna ainda resiste no país. Dados da Comissão Pastoral da Terra mostram que, entre 2016 e 2023, 972 mulheres foram resgatadas de condições semelhantes — 80% delas eram negras. E só em 2023, quase 3.500 pessoas foram identificadas como vítimas de trabalho análogo à escravidão no Brasil.

O estado do Amazonas, onde este caso ocorreu, lidera o ranking de resgates em 2024: das 441 vítimas contabilizadas no país, 100 estavam no estado, muitas em áreas de garimpo e desmatamento ilegal.

Trabalho escravo não é coisa do passado — ele ainda aprisiona, silencia e destrói vidas. Casos como esse lembram a urgência de olhar, denunciar e agir.

Denúncias anônimas podem ser feitas pelo Sistema Ipê. Todos os dados estão disponíveis no Radar do Trabalho Escravo, ferramenta pública de acompanhamento e transparência.

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