Mulheres Negras – as grandes vítimas da fome no Brasil

Por: Zulu Araújo

No último dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, os grandes órgãos de imprensa do país noticiaram com grandes manchetes uma das tantas tragédias que o Brasil está vivendo: “Sessenta por centro dos lares dirigidos por mulheres negras ou pardas estão em insegurança alimentar no Brasil.”, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN). Essa organização ainda pouco conhecida foi criada a partir de das Conferências Nacionais de Saúde e Segurança Nutricional, (2012), com o apoio do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e parcerias com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Ministério das Relações Exteriores (MRE), e que foram desmanteladas no atual governo.

Absurdo maior ainda, é que esta tragédia alimentar ocorre num pais que é o terceiro maior produtor de alimento do mundo e que se orgulha do incontestável desenvolvimento do agronegócio. Convenhamos isso não é uma tragédia, mas um crime de lesa humanidade, pensado, urdido e executado por uma elite econômica racista e insensível que espolia este nação há mais de quinhentos anos e que acredita piamente em teses como as contidas na afirmação do empresário investidor gaúcho Winston Ling de que a desigualdade impulsionada pelo mercado é fonte de progresso”.

Para a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura): “A insegurança alimentar é um fenômeno que ocorre quando um indivíduo não possui acesso físico, econômico e social a alimentos de forma a satisfazer as suas necessidades.”. Ou seja, o nome disso é fome e um terço da população brasileira está passando fome e a maioria dessas pessoas é negra. Em recente artigo publicado nesta Revista Raça (21.07), afirmei que a extrema direita brasileira, tem reavivado e praticado no Brasil atual o modus operandi do período escravocrata e que por isso mesmo era fundamental que estivéssemos atentos e fortes para garantir que as mulheres negras tivessem paz, respeito, afeto e que pudessem viver com dignidade.  Aproveito, pois, para reafirmar aqui, a minha crença de que sem democracia, sem eleições limpas e tendo seu resultado respeitado, nós não teremos a menor condição de superar esse absurdo.

Em agosto de 1960, Carolina Maria de Jesus, escritora negra que viveu na pele, o drama da fome, escreveu uma frase lapidar no seu famoso livro “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, “… Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças…”. Mas, infelizmente, parte da elite econômica brasileira, está mais preocupada em promover o desmatamento, armar suas milícias e dizimar o povo preto e pobre nos becos e vielas das nossas periferias. E as mulheres negras latino-americanas, tanto as de ontem como as de hoje,  continuam sendo as grandes vítimas dessa insensatez. 

Neste sentido, celebrar o dia 25 de Julho, é celebrar a resiliência dessas mulheres,  denunciar crimes como estes, mas também é se somar aos demais segmentos democráticos e progressistas de nossa sociedade, para dar um basta a esta situação de calamidade pública que a maioria da população está vivendo, em particular as mulheres negras e em outubro de 2022, seguir os versos de Betânia para “purificar o Subaé e mandar os malditos embora”. Lembrando que o Rio Subaé é o Brasil.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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