Durante décadas, o cabelo crespo e cacheado foi alvo de preconceito e invisibilização nos padrões estéticos impostos pela sociedade. Alisamentos, químicas agressivas e a pressão para “domar” os fios faziam parte da rotina de muitas mulheres negras. Mas esse cenário tem mudado nos últimos anos. Em salões, redes sociais, ruas e espaços de trabalho, é cada vez mais comum ver mulheres negras assumindo seus cabelos naturais com orgulho e essa mudança vai muito além da aparência.
O aumento da adesão à transição capilar, processo no qual a mulher deixa de usar químicas alisantes e permite que o cabelo cresça em sua forma natural, representa uma transformação individual e coletiva. “Assumir o cabelo natural é um ato político. É escolher se aceitar como se é, é resistir aos padrões impostos e afirmar a beleza negra”, afirma a psicóloga e ativista Érica Silva.
Segundo levantamento do Google Trends, as buscas por termos como “transição capilar”, “big chop” e “como cuidar do cabelo crespo” cresceram significativamente nos últimos cinco anos no Brasil. Isso reflete não só o interesse das mulheres em conhecer melhor os próprios fios, mas também a valorização de uma estética negra, que há muito tempo foi marginalizada.
O movimento também se fortalece graças à atuação de influenciadoras, empreendedoras e especialistas que compartilham dicas, tutoriais e experiências nas redes sociais. Nomes como Rayza Nicácio, Magá Moura e Nátaly Neri inspiram milhares de seguidoras com suas jornadas de aceitação e cuidado com os cabelos naturais. “Ver uma mulher negra usando o cabelo natural é inspirador. Mostra que podemos ser bonitas do nosso jeito, sem precisar nos encaixar em um molde”, comenta a estudante Camila Araújo, de 21 anos, que está em transição há seis meses.
Além disso, o mercado de beleza tem respondido à demanda crescente por produtos voltados para cabelos crespos e cacheados. Marcas que antes ignoravam esse público agora criam linhas específicas, enquanto empresas negras têm ganhado espaço e protagonismo ao oferecer soluções mais inclusivas e representativas.
No entanto, apesar dos avanços, o caminho ainda é longo. O preconceito contra o cabelo crespo persiste em diversos ambientes da escola ao mercado de trabalho. Por isso, assumir os fios naturais continua sendo um gesto de coragem e afirmação.
Mais do que uma tendência, o uso do cabelo natural por mulheres negras é um símbolo de liberdade, orgulho e pertencimento. Uma forma de dizer, com cada cacho, cada trança, cada volume: “Eu sou linda do meu jeito. E não preciso mudar para agradar ninguém.”