Revista Raça Brasil

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Mulheres negras desafiam o silêncio na literatura

Escritoras abordam fé, racismo e resistência a partir das margens, com destaque para Maria de Araújo, mística apagada pela Igreja Em um país onde a religião ocupa lugar central na vida cotidiana, o silêncio sobre a presença e o protagonismo das mulheres negras no campo da fé ainda é ensurdecedor.

Rompendo com esse apagamento, três autoras brasileiras vêm colocando o corpo feminino — negro, periférico e espiritualizado — no centro da narrativa. Dia Bárbara Nobre, Dandara Suburbana e Anna Virginia Ballousier discutem essas encruzilhadas em suas obras e formam um potente trio de vozes que interroga o sagrado com coragem e sensibilidade. O encontro acontecerá na FLIMA 2025, em Santo Antônio do Pinhal.

A jornalista e escritora Dia Bárbara Nobre resgata a história de Maria de Araújo, mulher negra do Cariri que teria sido protagonista de milagres eucarísticos no fim do século XIX — mas foi apagada da história oficial pela Igreja Católica. Em Incêndios da Alma (Planeta, 2024), Dia denuncia a exclusão sistemática de corpos racializados do imaginário religioso: “A história de Maria de Araújo foi enterrada por um sistema que canonizou o padre Cícero e condenou a mulher que teria sido o canal dos milagres”, afirma.

Já Dandara Suburbana, autora de A Culpa é do Diabo (Oficina Raquel, 2025), parte das experiências vividas em terreiros de candomblé para refletir sobre o racismo religioso e as estratégias de resistência das mulheres negras. Educadora e doutora em educação, ela provoca: “Quantos saberes cabem numa encruzilhada? E quantos deles o racismo tenta apagar?”. Suas histórias afirmam o terreiro como lugar de memória, cura e autonomia.

Fechando o trio, Anna Virginia Ballousier, autora de Púlpito (Todavia, 2024), investiga o papel das mulheres nas igrejas evangélicas brasileiras, revelando as contradições entre fé e controle social. Sua obra mostra como, mesmo em espaços marcados pelo conservadorismo, muitas mulheres constroem caminhos de emancipação. Juntas, essas autoras iluminam a fé como espaço de disputa simbólica, onde o sagrado também pode ser território de luta e transformação.

Serviço: Mesa: A RELIGIÃO E O FEMININO: IDENTIDADE, CORPO E PODER Sábado, 18 de maio | 15h30 Auditório – FLIMA 2025 | Santo Antônio do Pinhal (SP) Com: Dia Bárbara Nobre, Dandara Suburbana e Anna Virginia Ballousier Mediação: Maria Carolina Casati Entrada gratuita

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