O amor entre mulheres sempre existiu. O que muda, agora, é o espaço que ele ocupa — e, no pop brasileiro, esse espaço tem sido preenchido com mais voz, afeto e coragem por artistas negras que não abrem mão de cantar quem são.
Ludmilla talvez seja o nome mais conhecido dessa revolução. Quando lançou Maldivas, em 2022, fez mais do que uma declaração de amor à esposa Brunna Gonçalves — abriu caminho para outras mulheres negras falarem de amor sem medo, sem esconder. Hoje, enquanto espera a primeira filha do casal, Lud segue sendo referência e inspiração. “Acreditem no amor, ele tem poder de vencer tudo, inclusive o preconceito”, escreveu ela recentemente.
Na mesma sintonia, a compositora e cantora King Saints, nascida na Baixada Fluminense, mostra como é possível transformar vivência em potência. Aos 31 anos, ela vê o momento atual com esperança. “Hoje temos mais espaço para falar das nossas orientações, das nossas histórias. É bom ver outras mulheres ao nosso lado, andando juntas. É como estar com as pessoas certas no recreio da escola”, diz, sorrindo.
Kynnie, também do Rio, é outra voz forte que ressoa no cenário sáfico. Negra, lésbica, gorda — como ela mesma se descreve —, fala das barreiras que ainda enfrenta, mas também da força que encontrou ao transformar tudo isso em música. Seu álbum 93, lançado em 2023, é um retrato disso. “Falar do que a gente vive é normal. Eu sempre cantei de mulher pra mulher, e acho lindo ver mais artistas fazendo isso também.”
A onda do pop sáfico, que cresce no mundo com nomes como Billie Eilish e Chappell Roan, encontrou no Brasil um ritmo próprio — mais quente, mais plural e com a potência única de mulheres negras contando suas histórias. É mais do que música. É representatividade. É amor sendo cantado do nosso jeito.