Na véspera do Dia da Consciência Negra, Igor Rodrigues abre exposição “Coisas acessas por dentro”, em São Paulo
Obras inéditas marcam primeira individual do artista em São Paulo. O artista plástico revela que a música ‘Lágrimas Negras’, de Gal Costa, foi a inspiração da exposição.
Igor Rodrigues assina a mostra ‘Coisas Acesas Por Dentro’, uma exposição pautada pelo afeto na qual dezenas de obras inéditas são, segundo o artista, uma forma de expressão de algo que permeia seu íntimo, seu interior. “Essa exposição é sobre afeto, mas não se trata apenas da relação entre duas pessoas, mas, prioritariamente, sobre como fui construindo meus afetos ao longo da minha vida. Estou falando de mim, de única pessoa. O que me levou a esse caminho que me trouxe até aqui.” Contudo, ele explica que a temática do afeto é complexa, já que o afeto, para existir, precisa do outro. “Por mais que a gente tenha no senso comum que o afeto é aquilo que a gente sente pelo outro e de estar normalmente ligado ao ato de ‘amar’ alguém, a gente nasce com o afeto e esse vai se moldar ao longo do tempo.”
Desse modo, é compreensível que a exposição aconteça sempre na primeira pessoa, pois, segundo o artista, está falando do seu afeto, de como o contato com o outro foi, ao longo de sua trajetória, construindo-o, porque a partir disso pode entender quem é e entender o próprio afeto. “Sem saber quem eu sou, não posso saber o que sinto e nem o que posso dar ao outro.” Para ele, antes de chegar ao ‘nós’ é preciso chegar ao ‘eu’ e, por isso, a construção das obras faz esse caminho: há um percurso pelo ‘eu’ até chegar ao último trabalho chamado ‘Nós’, a única obra onde há duas pessoas. “É neste trabalho onde é possível se conectar com outro já agora, eu já sei quem eu sou.” Há aqui, também, uma ambivalência porque o Nós que denomina a obra é tanto um substantivo no plural de ‘nó’, de laço, quanto um pronome que sugere vínculo, uma junção entre o ‘eu’ do passado e o ‘eu’ do agora.
Acerca do título da mostra, ele conta que a música ‘Lágrimas Negras’, de Gal Costa, foi a inspiração, pois tanto a música quanto o sentimento demonstram como o afeto influencia a pessoa que o sente. “Penso o afeto como aquilo que, de algum modo, te acende por dentro, seja no sentido positivo de ser algo bom, que faz bem, como no sentido negativo, pois o afeto é isso: ele te movimenta para alguma coisa, seja através do amor, seja através do ódio.” Psicólogo de formação, mas autodidata nas artes plásticas, aos 27 anos e dono de uma apurada e potente técnica e com traços e cores marcantes, Rodrigues trabalha, também em sua arte, sobretudo, a ressignificação da centralidade da imagem do negro na sociedade, concorda a curadora Carollina Lauriano.
“A ideia de ressignificar as imagens que estão no mundo, a partir de uma perspectiva decolonial, é um dos pontos de suas criações. A gente tem uma história da arte que se centra em uma produção branca e todas essas imagens criadas revelam, principalmente, uma imagem branca como padrão. Então, está em pauta como ressignificar esses padrões e como perceber outras existências no mundo.”
E, como ponto de conexão entre a ressignificação de padrões e o que pauta o trabalho do artista, a exposição vem ao encontro de uma condição urgente: a de olhar para o atual cenário, principalmente o das artes, pontua o diretor da galeria paulistana, Acácio Lisboa. “O trabalho do Igor é de extrema relevância e potência. Ao mesmo tempo que traz em si uma crítica de nossa sociedade ainda racista, preconceituosa, apresenta de uma forma realista a beleza dos afrodescendentes, em sua força, autoestima, empoderamento, em posturas e cenas ligadas ao universo da moda. A qualidade das pinturas de Igor me chamou a atenção e reforçou o meu desejo de apresentar seus trabalhos na Galeria Frente.”
Outro ponto que merece destaque é que a exposição será inaugurada no dia 19 de novembro, antecedendo as comemorações do Dia da Consciência Negra (20 de novembro). “Queremos com isso enaltecer o trabalho e participar das comemorações. Consideramos de extrema importância a abertura de espaço das galerias para a valorização de trabalhos de artistas afrodescendentes e, por isso, queremos abrir a galeria para novos olhares, visões mais atuais, atuantes e mais inclusivas”, pontua Lisboa sobre ter, além da curadoria de Carollina, texto do catálogo por Luciara Ribeiro, mulheres jovens, negras e de enorme relevância no mundo das artes.
Serviço
Exposição: Coisas acesas por dentro
Artista: Igor Rodrigues
Abertura 19/11 (sábado)
Horário: 11 às 17h
Período expositivo: 22/11/2022 a 21/01/2023
De terça a sexta das 10h às 18h. Sábado das 10h às 14h. Domingos e segunda fechado.
Galeria Frente. R. Dr. Melo Alves, 400 – Cerqueira César, São Paulo – SP, 01417-010. (11) 3064-7575