“Não queremos mais estar no curral do Ministério da Igualdade Racial”
FREI DAVI FALA COM EXCLUSIVIDADE SOBRE A PRESENÇA NEGRA NO GOVERNO LULA
Desde que o Presidente Lula começou a indicação dos nomes para compor os ministérios, a população sempre teve um olhar muito atento às questões de paridade de gênero e igualdade racial. Hoje (22) foi divulgada a lista completa de nomes que irão compor as pastas do governo petista, dentre eles Margareth Menezes conduzindo a Cultura, Silvio Almeida nos Direitos Humanos, Flávio Dino como ministro da Justiça e Anielle Franco na pasta de Igualdade Racial.
A ideia de reconstrução do país foi pensada por muitos movimentos, entidades, ativistas e políticos. Um desses ativistas foi o Frei Davi que é fundador do EDUCAFRO e dedica mais de 40 anos a trabalhos populares em prol educação de crianças negras. Frei Davi concedeu uma entrevista exclusiva a Revista Raça mostrando suas insatisfações e discordâncias sobre o time que vai comandar o país no próximo período.
Ao ser questionado sobre a indicação de Anielle Franco a pasta de Igualdade Racial ele respondeu:
“Eu vou desagradar meus próprios irmãos e lideranças negras históricas. Eu não queria a Anielle Franco no Ministério da Igualdade Racial. Eu queria ela no CODEFAT.”
O CODEFAT é Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, cujo o orçamento para 2023 é de 16 bilhões de reais, enquanto a verba prevista para o Ministério de Igualdade Racial, Mulheres e Direitos soma-se um menor orçamento no valor de 947milhões. E é por esse motivo que o teólogo entende que a Anielle Franco foi punida e poderia ter pegado um cargo com mais expressividade.
Ele afirma que a comunidade negra é muito consciente e não estava preocupada com quem iria assumir o Ministério da Igualdade Racial. Mas sim, preocupada se cada ministro se comprometerá em colocar no mínimo 30% de negros nos cargos de confiança e de livre escolha.
” Eles não confiam em nós?”
Questionou. Ainda na entrevista, o Frei elogia o Ministro da Justiça Flávio Dino por ter quase 50% de afro-brasileiros nos cargos mais importantes do ministério que ele comandará, nomeando, por exemplo, ao alto escalão os advogados negros Marivaldo de Castro, Tamires Gomes e Sheila Carvalho. Além de se mostrar decepcionado com a postura que reverbera o pacto da branquitude do Ministro Haddad e do presidente da BNDES Mercadante.
“Estou decepcionado com o ministro Haddad, que é de nossa extrema confiança. Prevíamos que ele ia ser bastante comprometido conosco e não ia parar em 30% de negros nos cargos de confiança do ministério dele…Achei que ele imitaria o Flávio Dino e chamaria 50% de negros. No entanto, até agora, o ministro Haddad não indicou um nego sequer.”
O Frei Davi continua a questionar o presidente do BNDES e sua esquipe sem presença negra.
“Mercadante tem consciência de que no primeiro escalão do BNDES tem mais 200 vagas cujo o salário é mais de 100 mil e até agora o Mercadante não indicou um único negro”.
Para o teólogo essa postura é ofensiva e de se envergonhar, pois existem estudos e artigos construídos, inclusive por ele e pelos GT´s de transição que afirmam a importância da representatividade negra dentro do Governo. Na perspectiva de que no país em que a maioria da população é preta, seja inadmissível que em alguma instância do poder não tenha uma única pessoa afro a nos representar.
“Precisamos cobrar. O caminho é esse, não queremos mais estar no curral do Ministério da Igualdade Racial, chega de curral. Queremos estar em todos os Ministérios!”