Revista Raça Brasil

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“Não queremos migalhas, queremos poder” – Antônio Pitanga

Antônio Pitanga fala com a voz de quem carrega a história nas costas — e também com a leveza de quem sabe exatamente o valor que tem. Aos 86 anos e mais de seis décadas de carreira, o ator baiano falou sobre sua trajetória e o lugar do povo negro no Brasil durante uma entrevista ao programa Conversa com Hildegard Angel, e não economizou verdades.

“Os negros não querem migalhas. Queremos poder, igualdade e voz”, disse. Com firmeza, mas também com esperança, Pitanga refletiu sobre a luta do povo preto por espaços que sempre lhes foram negados — e a urgência de ocupar esses lugares sem pedir licença.

Ele relembrou a infância no Pelourinho, os tempos de linotipista e entregador de telegramas antes do teatro aparecer como um respiro. Foi na arte que ele encontrou cidadania: “Foi a cultura que me deu passaporte de cidadão. Ela dizia pra mim: você também pode”. Foi também nos braços do Cinema Novo, pelas mãos de Glauber Rocha, que ganhou o papel que lhe deu o nome artístico.

Mas Pitanga não romantiza o caminho. Ele conta que ser ator já era motivo de preconceito — e sendo negro, era tudo mais difícil. “A classe artística já sofria. Nós, negros, sofríamos duas vezes.”

Ao falar sobre cotas, ele defende a importância das ações afirmativas, mas diz que elas não devem ser permanentes. “As cotas são necessárias, sim. Mas têm que ter tempo de validade. Num país justo, os direitos precisam ser iguais. Eu não posso depender de leis pra provar que existo.”

Casado com a deputada Benedita da Silva, ele também lembrou nomes como Abdias do Nascimento e Carlos Alberto Caó — figuras negras que mudaram o Brasil, mas que raramente são reconhecidas como deveriam. “O Brasil não admite que essas leis foram construídas por negros”, desabafou.

Mesmo com toda a trajetória, Pitanga diz que ainda quer mais. Quer igualdade plena, não concessões. E deixa um recado direto: “Não está no branco fazer a lei. Está em nós, negros, entender nosso valor e ocupar nosso lugar.”

A fala dele é mais do que memória. É urgência. É recado para quem está chegando agora: não aceitem menos. Pertencemos a todos os espaços — e não estamos aqui para agradecer o mínimo.

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