Negra exótica?

É comum negros e afrodescendentes terem sua estética, estilo e até mesmo suas características naturais, rotulados como algo exótico! Isso acontece porque a sociedade brasileira enxerga na estética branca o padrão para a população brasileira.

Toda a formação dos profissionais de beleza se baseia em avaliar as características naturais de uma pessoa, e oferecer ao cliente propostas de transformação. Essas propostas, em sua grande maioria são influenciadas por tudo que nos rodeia, ou seja, nossa cultura, o mundo da moda, os meios de comunicação… literalmente tudo. É o que acontece quando essa prática é vivida em um país como o Brasil, constituído de indígenas, negros e europeus, mas que teve sua história e construção de identidade valorizando apenas o imigrante europeu, apagando a participação ativa do africano e do nativo indígena na constituição do cidadão brasileiro. Temos uma população que não se reconhece como latina, uma educação que coloca no imaginário do povo brasileiro o sentimento de negar sua herança plural, e evidenciar apenas suas características europeias.

Encontramos uma população negra que cresceu sem representatividade, mergulhada em um processo de embranquecimento, e a total invisibilidade da população indígena. Por anos os salões de beleza e estética foram vistos como o facilitador no processo de embranquecimento, com processo de alisamento capilar e maquiagem para afinar traços e características negróides, bem como transformar uma legião de mulheres latinas em loiras platinadas.

É grande o número de salões na cidade de São Paulo, especialista em criar loiros claríssimos, semelhantes aos cabelos dos nórdicos europeus, é grande a gama de cabeleireiros de loiras famosos e milionários, com acesso aos grandes meios de comunicação, reforçando no imaginário da população a vontade consciente e inconsciente de se clarear. Não é apenas a população mestiça que passa pelo processo de clareamento.

Tem muito branco latino que busca em recursos cirúrgicos e estéticos o branqueamento social, ou seja, parecer mais branco e ficar mais próximo do que a cultura brasileira valoriza como bonito, importante, rico, inteligente e por aí vai.

Encontramos no dicionário duas definições para o adjetivo exótico.

Esquisito: que não é comum; que expressa extravagância ou excentricidade; animal exótico. Estrangeiro: que não nasceu no país, ou região, em que habita; vegetação exótica. Considerando o cenário descrito acima, deduzimos que o exótico, na visão dos brasileiros, é o não natural, o não nativo. Aquele que evidencia a complexidade do sentimento da população brasileira em se reconhecer e se definir como não branca.

Os meios de comunicação em massa abrem diversas portas para a indústria reforçar ainda mais esse estereótipo no imaginário da população: capas de revistas com grande circulação, apresentadoras de programas, cantoras e atrizes, todas transformadas em loiras, com seus cabeleireiros exaltando transformações. Mas que, na verdade, colocam todo mundo igual. Essa padronização dos rostos na mídia alimenta o racismo estrutural no país.

Hoje, a população não branca ultrapassa os 50% da população total do nosso país. Dessa maneira, podemos entender que ser exótico não é uma característica afrodescendente, latina e muito menos indigena, já que somos a maioria aqui. U que nos rotula como exóticos de forma pejorativa é a falta de informação e a falta de representatividade na mídia.

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