Negros decidindo e determinando futuros

Páginas Pretas por Maurício Pestana – Edição 222

Quem conhece Gil Marcos, nosso entrevistado desta edição de Páginas Pretas, sabe que o economista tem como uma de suas principais características a diplomacia, o que lhe faz ser respeitado e admirado em diversos setores nos quais a presença negra é a essência, como no mundo samba, no Aristocrata Clube, ou no UAB, grupo que ajudou a construir e que agora ele preside. Nesta entrevista exclusiva à RAÇA, Gil fala da responsabilidade de seu novo desafio, presidir o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo, primeiro Órgão Governamental a tratar do assunto em nosso país. A história e o que pensa o novo presidente do Conselho é o que você passa a conferir a partir de agora.

Gil Marcos, fale um pouco sobre sua vida, carreira, você é economista. Isso mesmo?

Nasci em Curitiba/PR, tenho um casal de filhos, Bárbara e José Lucas. Morador da Vila Maria/SP, comecei trabalhando aos 12 anos como ajudante geral em uma pequena fábrica na Vila Maria, estudei no Senai, aos 15 anos tive meu primeiro registro na carteira profissional como office boy em uma grande empresa de SP, mas sempre estudando. Me formei em técnico de administração de empresas, entrei na faculdade de economia em 1978, e fiz latu senso em gerenciamento financeiro. Trabalhei em grandes empresas, fui gerente de Banco, sou Vice-presidente de benefícios do Sindicato dos Economistas e Conselheiro titular do Conselheiro Regional de Economia – Corecon/SP.

Sua trajetória inclui o 3º Vagão, a primeira geração de negros formados numa universidade. Como foi isso?

Este período foi difícil, mas compensador. Entrei na Universidade de Mogi das Cruzes, muito embora tenha conseguido passar no vestibular de uma faculdade em SP, não tinha recurso financeiro para pagar as mensalidades, e optei para estudar em Mogi das Cruzes cuja mensalidade cabia em meu orçamento, diríamos que era a nossa COTA da época. Foi gratificante este período, pois me deparei com meus iguais, muitos alunos negros de diversas cursos estudavam na mesma universidade. Como íamos de trem saindo da estação do Brás para Mogi das Cruzes, chamado Trem dos Estudantes, adotamos o Terceiro vagão cuja sua grande maioria eram alunos Negros, e mantemos vínculos até hoje, temos um grupo de WhatsApp, onde nos comunicamos.

Fale do UVA, União dos Velhos Amigos?

Em 2006, o amigo Dr. Eduardo Pedroso/Dudu, e alguns sócios do Aristocrata Clube, resolveram criar o UVA – União de Velhos Amigos, Para que cada 2 meses pudéssemos nos encontrar em algum restaurante da cidade de SP para comemorarmos, afinal, os seus integrante estão envelhecendo e queríamos um momento de descontração. O grupo tem 15 anos de existência e continuamos unidos, mas por conta da pandemia nossos encontros foram suspensos.

Mundo do samba: como foi sua passagem pela Nenê e sua amizade com Betinho?

Este foi um dos grandes momentos da minha vida e quebra de paradigma, pois quando adolescente eu queria
frequentar Escola de Samba, e a minha mãe dizia que não era um ambiente de pessoas sérias ou bem vistas.
Ao entrar na Faculdade eu conheci o Betinho, e ficamos amigos. No ano de 1978 ele me convidou para ir em sua
casa no aniversário do seu Nenê, e tive o grande prazer de ficar amigo da família. Em 1979, o Betinho me convidou para integrar o grupo de APOIO da Escola de Samba, comecei a frequentar os barracões de alegorias e acabei me apaixonando pela arte. Penso que o desfile de Carnaval é uma das formas onde a nossa população Negra tem seu espaço para enaltecer seus heróis, falar das suas tristezas, fazer seus protestos, cantar e contar suas alegrias. Tive bons momentos com o amigo Betinho, uma pena a sua morte ter sido tão precoce, na Gestão do Celso Pitta como Prefeito de São Paulo, nós ajudamos na sua campanha por ser um homem negro. Como recompensa pelo nosso trabalho na campanha para eleger o Prefeito, e no segundo período do seu mandato, o Betinho como advogado foi convidado para ser Diretor Administrativo da COHAB e me convidou para ser Superintendente da COHAB, foi uma grande experiência profissional, penso até que foi um momento único onde vários negros ocuparam cargos importantes na Prefeitura de São Paulo.

Você é muito amigo do Geraldo Rufino e montou o UAB. Me conta um pouco sobre o grupo?

Sim eu e Geraldo Rufino nos conhecemos em uma discussão política em 2016. E eu enquanto Conselheiros do CPDCN e nosso grupo, queríamos que mantivessem a Secretaria da Igualdade Racial mas o Prefeito eleito João
Doria disse que transformaria tanto a Secretaria da Igualdade Racial como a Secretaria das Mulheres em
Secretaria de Direitos Humanos. Neste momento aparece o Geraldo Rufino falando em nome do Prefeito João Doria, para que tivéssemos entendimento sobre as razões pela qual seriam extintas as duas Secretarias e transformada em uma única Secretaria a de Direitos Humanos. A partir de então eu e Geraldo nos tornamos amigos, ele é um grande empresário, o maior da América Latina em seu seguimento sobre desmontagem de veículos pesados. Em Janeiro/2020, o Geraldo Rufino, que além de grande empresário é escritor e palestrante motivacional, autor do livro “O poder da Positividade”, convidou-me para criarmos um grupo virtual de amigos, para provocarmos discussões de cunho político mas que fosse suprapartidário.

Aí nasceu a UAB – União Afro Brasil que é um movimento social e político brasileiro, de caráter suprapartidário, que tem como missão unir e reunir tanto afrodescendentes como não afrodescendentes para, a partir do
empreendedorismo, incentivar o desenvolvimento econômico e social dos negros e negras do Brasil e apoiar e
promover uma maior diversidade racial na elite política brasileira. Queremos também incentivar a capacitação dos postulantes negros e negras às eleições municipais, estaduais e nacionais, sugerindo e promovendo o voto em postulantes negros e negras nas eleições vindouras.

O que representa para você hoje chegar à presidência do conselho da comunidade negra?

Representa um grande desafio, este também é um dos grandes momentos de muita honra, e de grande
responsabilidade em minha vida, afinal eu nunca havia pretendido concorrer ao cargo de Presidente do Conselho
da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, mas como fui escolhido pela segunda vez para compor o
grupo de novos conselheiros(as), como representante da Sociedade Civil, onde houve uma renovação de 80%, no
quadro de novos conselheiros (as), imaginei que seria uma disputa extremamente difícil. Mas como tive o apoio e incentivo de alguns Conselheiros da atual e última gestão, como também do Presidente Ivan Lima e a Vice-Presidente Alessandra Laurindo, e a nossa atual Vice-Presidente Cida Costa, e nossa Secretária Lilian Raquel Pires, vencemos com 75% de aprovação.

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