Negros são as maiores vítimas da Covid-19 no mundo
Uma pesquisa realizada pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, em inglês) do Reino Unido, constatou que os negros são quatro vezes mais propensos a morrer de Covid-19 do que os brancos, de acordo com números que expõem uma divergência dramática no impacto da pandemia do coronavírus na Inglaterra e no País de Gales.
O perfil descoberto pela pesquisa revelou que os homens de Bangladesh e do Paquistão tinham 1,8 vezes mais probabilidade de morrer da Covid-19 do que os homens brancos, depois de outros fatores pré-existentes terem sido contabilizados, e as mulheres dessas etnias tinham 1,6 vezes mais probabilidade de morrer do vírus do que as brancas.
Os autores pediram mais pesquisas sobre a contribuição do risco ocupacional e se as pessoas de origem BAME (negros, asiáticos e minorias étnicas) foram colocadas em maior risco de exposição e infecção. O estudo, que ainda precisa ser revisado, constatou que pessoas de origens sociais carentes também estavam em maior risco, e mais uma vez esta constatação não pôde ser explicada por outros fatores de risco.
Na cidade de Chicago, nos EUA, 72% das pessoas que morreram de coronavírus eram negras, embora apenas um terço da população da cidade o seja. Na Geórgia, a partir de 17 de abril, os brancos representavam 40% dos casos de Covid-19, embora representem 58% do estado. No Reino Unido, dos primeiros 2.249 pacientes com Covid-19 confirmado, 35% eram não-brancos. Isto é muito maior que a proporção de não brancos na Inglaterra e no País de Gales – 14%, de acordo com o censo mais recente.
Dado o longo histórico de desigualdade nos serviços de saúde na maioria dos países do mundo, estes números eram esperados e a pandemia é o mais recente exemplo de como a dinâmica racial se desenrola de formas cruéis.
Desigualdade de renda
Em muitos países brancos majoritários como os EUA (assim como em alguns países brancos minoritários como a África do Sul), pessoas de outros grupos étnicos e raciais têm menos acesso a recursos econômicos. São os mesmos grupos expostos a insegurança alimentar, que é definida quando o arrimo de família não tem recursos para garantir o acesso consistente a alimentos suficientes. Mesmo no pré-pandêmico, 91,1% das famílias sul-africanas consideradas vulneráveis à fome eram chefiadas por uma pessoa negra, em comparação com 1,3% para as famílias chefiadas por uma pessoa branca (embora os brancos representem 7,9% daquela população).
Nos EUA, as famílias negras, em 2018, tinham duas vezes mais probabilidade de estarem em insegurança alimentar do que a média nacional, com uma em cada cinco famílias sem acesso consistente a alimentos suficientes, mesmo antes da crise causar demissões maciças, com bancos de alimentos sobrecarregados de procura.
Na África do Sul, o economista de desenvolvimento da Universidade de Witwatersrand, Imraan Valodia previu que o confinamento levará a uma perda de renda de 45% para os 10% mais pobres das famílias, com efeitos especialmente prejudiciais para os trabalhadores informais sem uma rede de segurança.
Mas a desigualdade econômica não é o único desafio enfrentado de forma desproporcional pelos grupos BAME. A persistência de injustiças ambientais, por exemplo, significa que um número desproporcionalmente alto de famílias de minorias étnicas na América do Norte e Europa vivem perto de incineradores e aterros sanitários. Escolas com altas proporções de alunos de minorias estão localizadas perto de rodovias e locais industriais – tanto por razões econômicas quanto não econômicas. Isto também afeta a vulnerabilidade a condições de inflamação do pulmão, como asma e Covid-19.
E é preciso ter uma visão cuidadosa de como as consequências econômicas irão afetar desproporcionalmente as comunidades BAME. Por exemplo, após a crise financeira de 2007-08, as minorias étnicas no Reino Unido enfrentaram maior desemprego, menores rendimentos e maiores custos de habitação.
Os especialistas procuram uma resposta para a pergunta: “o que nos matará mais, a Covid19 ou a pobreza?” Por enquanto, é impossível responder. Para o microbiologista Wael Ellamin, da Universidade de Dubai, o que é claro a respeito do coronavírus é que, “a maneira como ele se espalha não é igual”.
*Com informações do The Guardian e BBC Future
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