Nem sempre os últimos serão os primeiros.

Zulu Araújo

Os dados publicados durante a semana sobre a melhoria do desempenho da economia brasileira são animadores. A expectativa é que o PIB do país cresça em torno de 2,3%, ou seja, três vezes mais do que estava previsto inicialmente.

A inflação também dá sinais claros de redução e está em 5,69, fruto da responsabilidade fiscal do governo atual. Afora o Presidente do Banco Central, que mantém a taxa de juros mais alta do mundo no Brasil (13.75%), sabotando deliberadamente o país, todo mundo está torcendo para que o Governo dê certo e a economia volte a crescer. 

Para a comunidade negra então, o crescimento econômico é fundamental, pois ele gera emprego, renda e mobilidade social. Até porque, não podemos nos contentar apenas com a Bolsa Família, os programas sociais, a glamourização das favelas e o surgimento de celebridades negras empoderadas, como mecanismos de mitigação da pobreza endêmica da população negra brasileira, embora todas as alternativas sejam importantes diante da gravidade da situação. 

Digo isso porque não é muito comum as lideranças negras tratarem das questões econômicas por aqui, até parece que isso nãos nos diz respeito e que basta a sensibilização daqueles que estão no poder para que façamos a inclusão plena dos/as negros/as no mercado de trabalho. Mas, o fato concreto é que quando o país está em crise, a população negra tem sido a primeira a ser desempregada e quando a economia cresce tem sido a última a ocupar dos postos de trabalho. Daí que essa história de que os últimos serão os primeiros é pura balela. 

Prova disso são os últimos dados do IBGE, publicado em maio deste ano.  Apesar da melhoria da economia, mulheres e negros continuam pagando a conta da exclusão no mercado de trabalho no pós-pandemia, “a taxa de desemprego entre as mulheres ficou em 10,8%, enquanto entre os homens o índice foi de apenas 7,2%”, do mesmo modo que entre os negros a taxa “de desocupação, no primeiro trimestre deste ano, era de 11,3% entre os que se autodeclaravam pretos, 10,1% entre os pardos e 6,8% entre os brancos”.

Ainda segundo o IBGE, esses números “de desocupação entre mulheres e entre pessoas de cor preta e parda é um padrão estrutural do Brasil” e não vejo nada no horizonte que indique a mudança desse quadro. Em outras palavras, ou partimos para a luta no campo econômico, apresentando propostas como o apoio a programas da Economia Criativa, para que o crescimento também se faça presente no desenvolvimento da comunidade negra ou continuaremos enxugando gelo e lamentando a pobreza histórica da nossa população. Conforme estudos realizados pelo Instituto ETHOS, no ritmo em que a situação se encontra “a igualdade racial no ambiente de trabalho só será alcançada daqui a 150 anos.”. 

Portanto, as lideranças, seus intelectuais, assim como as organizações do movimento negro brasileiro, precisam urgentemente incluir na sua agenda política a dimensão econômica não mais como um ponto futuro a ser alcançado, mas como parte do presente que precisa ser construído. Claro que para tanto precisaremos de aliados, bem como exigir medidas econômicas de órgãos governamentais como o BNDES, Ministério da Indústria e Comércio, SEBRAE, etc. para que os mesmo apoiem as ações afirmativas no campo empresarial. Mas também, medidas emergenciais como apoio as empresas lideradas por pessoas negras, ou a empresas que aceitem implementar os programas de diversidade racial no campo empresarial. Enfim, do jeito que está é que não dá pra ficar. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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