Nem todo pardo é preto, será?
Em recente pesquisa realizada pelo Datafolha, a grande novidade, foi que nem todo pardo se considerava negro. Em cada dez pardos que foram entrevistados apenas 04 se consideravam negros.
Um dado preocupante, em particular, para o movimento negro brasileiro, que ao longo de décadas conseguiu avanços significativos na luta pela promoção da igualdade racial, lastreado, exatamente no conceito adotado pelo IBGE, que considera, para efeito de pesquisa, que a junção entre pretos e pardos, era equivalente a condição de negro.
Claro que esse tema, não se esgota em uma mera pesquisa, visto que toda e qualquer pesquisa é um retrato do momento, mas não deixa de ser um indicativo das dificuldades que as políticas de ações afirmativas encontrarão pela frente, dentro em breve.
Desde o último censo do IBGE (2022), no qual a maioria da população brasileira se identificou, majoritariamente, como parda, representando mais de 92, milhões de pessoas, o equivalente a 45,3% da população do Brasil, que esse tema tem sido objeto de debates e discussões.
Até porque essa não é uma discussão fácil.
Que o Brasil é uma nação formada por mestiços, em sua grande maioria, ninguém tem dúvida. Mas, o problema da discriminação racial, do racismo e as consequentes desigualdades decorrentes dessa condição é que são os nós da questão.
O conceito de que pretos e pardos, é igual a negros, não foi algo que saiu da cartola de nenhum gênio da raça, mas sim, fruto de estudos e pesquisas profundas da realidade brasileira, onde a maioria absoluta dos pardos e pretos possuem praticamente as mesmas condições socioeconômicas, bem como vivem os mesmos problemas de exclusão.
Portanto, não é apenas a quantidade de melanina que as pessoas possuem que tem definido o seu lugar de não cidadão pleno no Brasil. Daí que a insistência em fazer a distinção entre pretos e pardos para a luta da promoção da igualdade racial pode ser um tiro no pé na luta de combate ao racismo.
É bem verdade, que parcela do movimento negro, os chamados racialistas, tem insistido, nos últimos tempos no marcador da “melanina acentuada” enquanto critério para identificar quem são os maiores merecedores da condição de ser negro e consequentemente ser beneficiário das políticas de ações afirmativas.
É o também chamado “colorismo”. Quanto mais melanina, mais direitos.
Essa abordagem, ainda mais num país com as características do Brasil além de ser uma grande bobagem, é um grande desserviço a luta histórica que o movimento negro vem realizando no sentido de ampliar o seu leque de aliados na luta pela promoção da igualdade.
Mas, nessa empreitada, também temos os conservadores e racistas de plantão, que não perdem uma oportunidade para tentar desqualificar as políticas de ações afirmativas, bem como os avanços que a luta pela promoção da igualdade racial tem alcançado no país. E para tanto, fazem uso de quaisquer argumentos que possam deslegitima-las.
Por isso mesmo, mais do que nunca, é hora do movimento negro brasileiro, ampliar a sua agenda política, buscar novos aliados, além de incluir definitivamente a defesa incondicional da democracia, enquanto um valor estratégico no combate ao racismo no país.
Sem democracia, não há igualdade racial, não há inclusão, nem muito menos condições para o exercício de quaisquer direitos.
Viva o Dia Nacional da Consciência Negra! Viva Zumbi dos Palmares!
Toca a zabumba que a terra é nossa!