Novos heróis no ar

Com o fim da série WandaVision e a chegada de Falcão e Soldado Invernal, a Disney e suas franquias da MCU – Marvel Cinematographic Universe – finalmente trazem uma renovação honrosa de heróis negros contemporâneos. Não que personagens negros sejam uma novidade destes universos – afinal, Luke Cage e Pantera Negra estão aí para isso. Mas a novidade está em trazer o protagonismo e a naturalidade dessaspessoas “comuns”, populares, para as telinhas nessa nova fase em que o streaming dominou o nosso cotidiano.

Particularmente, sou apaixonada por filmes de super-heróis, principalmente pela pequena revolução que a Marvel fez nos cinemas nas últimas décadas. Confesso que acompanho, de longe, estudos, reportagens e pesquisas acadêmicas sobre quadrinhos da Marvel Comics, principalmente no que se refere à representatividade negra, mas sei que, ao contrário de muitos colegas, não sou aquela que acompanha todo o arco de um personagem; não sei das trajetórias complexas, das revisões e multiverso, da cronologia e aparições.

Isso invalida a minha “carteirinha” nerd, mas me autoriza a comemorar o nascimento da minha mais nova heroína favorita: Monica Rambeau (Teyonah Parris), que provavelmente terá a alcunha de Spectrum. Eu sei que não é a primeira superpoderosa negra da Marvel, mas existe um frescor inegável em Mônica, peloentusiasmo dessa estreia, um pouco tímida mas muito especial em WandaVision, série que me comoveu de fato tanto no formato quanto em conteúdo.

A forma como a personagem se aproxima da protagonista em relação ao tema de perda de pessoas amadas, para mim é uma das potências da série, principalmente no cenário atual em que o luto está tão presente em tempos de pandemia. Com empatia, inteligência e força, Mônica é a super-heroína que eu quero apresentar para todas as meninas negras que, como eu, têm poucas referências nas telas.

O mesmo podemos dizer sobre Sam, o Falcão, de Capitão América. O mais novo queridinho de todos os meninos que puderam se enxergar em Mile Morales como Homem-Aranha, Falcão agora estrela sua própria série, junto com o Soldado Invernal, e já havia sido indicado como alguém que vestiria o manto de Steven Rogers em Vingadores: Ultimato e agora, assim como nos quadrinhos, parece ser peça importante para a continuidade desse arco. Sam, interpretado pelo ator Anthony Mackie, traz o mesmo sentimento que Boyega e seu personagem Finn em Star Wars: um acolhimento de que meninos negros podem ser iguais aos personagens que eles veem na TV. Que somos bonitos, inteligentes, supers.

E para quem leu todos esses nomes e referências não fazem o menor sentido, garanto que no ramo do entretenimento não existe uma só criança “nerd” que não reconheça que, enfim, estamos em um novo momento de representatividade, que pode ter se popularizado lá, em Wakanda, mas que ganha raízes quando qualquer um de nós, que não nascemos com superpoderes, pode se vestir e lutar batalhas intergaláticas para salvar o mundo.

Porque, neste momento, ver-se salvando o mundo faz a diferença, seja com uma capa ou com uma máscara. 

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Fernanda Alcântara é jornalista, pesquisadora de quadrinhos e mestre em Comunicação na USP. Por quatro anos foi editora-chefe da Revista Raça e desde 2014 realiza palestras sobre temas como comunicação, diversidade e igualdade racial e de gênero. Fala sobre cultura pop, entretenimento e outras "nerdices".

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