Revista Raça Brasil

Compartilhe

Número de novas infecções por HIV cresce mais entre a população negra no Brasil

O número de novas infecções por HIV tem crescido de maneira desproporcional entre pessoas negras no Brasil, revelando um cenário em que desigualdades sociais, raciais e econômicas continuam determinando quem acessa informação, prevenção e tratamento. Segundo dados citados pelo Portal Terra, cerca de 59,7% dos novos casos registrados no país são de pessoas pretas e pardas, enquanto aproximadamente 49% dos diagnósticos envolvem pessoas brancas. A disparidade é ainda mais evidente entre mulheres: 62,9% das novas infecções atingem mulheres negras, contra 33,9% entre mulheres brancas.

Especialistas ressaltam que essa diferença não tem qualquer fundamento biológico. O que explica o avanço da epidemia entre a população negra são vulnerabilidades produzidas historicamente pelo racismo estrutural, que se expressam desde a dificuldade de acesso à educação e informação até barreiras concretas dentro do sistema de saúde. Estudos apontam que pessoas negras enfrentam mais obstáculos para realizar testes de rotina, acessar métodos preventivos como preservativos e PrEP e iniciar o tratamento rapidamente após o diagnóstico.

As desigualdades de gênero agravam ainda mais esse cenário. Mulheres negras não só têm menos acesso a serviços de saúde de qualidade, como também convivem com maiores taxas de violência doméstica, menor autonomia nos relacionamentos e mais desafios econômicos, fatores que dificultam o uso consistente de métodos de prevenção. Tudo isso contribui para que elas sigam mais expostas à infecção, mesmo com avanços científicos e políticas públicas de saúde disponíveis.

Pesquisadores lembram que, ao longo das últimas décadas, a aids deixou de ser uma epidemia concentrada principalmente em homens brancos de camadas médias, como ocorria no início dos anos 1980, e passou a afetar de forma crescente populações negras e periféricas. Dados recentes indicam que, somente em 2023, cerca de 61,6% dos novos diagnósticos foram registrados entre pessoas negras, reforçando um padrão já conhecido pelos serviços de saúde pública.

Embora o Brasil tenha apresentado redução no número de mortes relacionadas à aids, a queda não ocorre de forma igualitária. Pessoas negras ainda morrem mais por complicações da doença devido às dificuldades de acesso ao diagnóstico precoce, à continuidade do tratamento e ao acompanhamento adequado elementos essenciais para o controle do HIV e para a qualidade de vida de quem vive com o vírus.

Especialistas defendem que enfrentar o avanço da epidemia entre a população negra exige mais do que campanhas pontuais. É necessário investir em políticas públicas permanentes e específicas, que considerem a realidade social desses grupos, ampliem o acesso à prevenção e fortaleçam os serviços de saúde nos territórios mais vulneráveis. Só assim será possível reduzir o ciclo de desigualdades que continua ampliando o impacto do HIV sobre pessoas negras no Brasil.

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?