O 1º JOGADOR NEGRO DE DESTAQUE DO FUTEBOL MUNDIAL

Saiba mais sobre a história de Andrade, o 1º jogador negro de destaque do futebol mundial

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

José Leandro Andrade, o primeiro jogador negro de destaque do futebol | FOTO: Divulgação

José Leandro Andrade, o primeiro jogador negro de destaque do futebol | FOTO: Divulgação

Jamais me canso de consultar, folhear, ou passar uma rápida vista d’olhos no clássico “O Negro no Futebol Brasileiro”, de Mário Filho. E foi nas páginas dessa obra que eu li, pela primeira vez, sobre a Liga dos Canelas Pretas, formada pelos clubes de futebol gaúchos que admitiam jogadores negros e mestiços, o que era proibido pela Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense, a exemplo das entidades esportivas semelhantes do Rio de Janeiro e de São Paulo, no início do século XX. Curiosamente, bastava aos gaúchos atravessarem a fronteira para se deparar com uma realidade bem diferente: no vizinho Uruguai, um atleta negro, nascido em outubro de 1901, era o maior ídolo nacional, bem antes dos anos 20, sem precisar usar touca para esconder os cabelos crespos nem pintar a cara com pó-de-arroz, como ocorria em alguns times brasileiros. Seu nome era José Leandro Andrade, e é considerado o primeiro grande jogador negro da história do futebol mundial. Ainda hoje ele é citado internacionalmente entre os mais brilhantes pela eficácia técnica, pela elegância e também pela inteligência.

A história de Andrade, o 1º jogador negro de destaque do futebol mundial: Andrade sempre atuou nos mais expressivos clubes uruguaios – Misiones, Bella Vista, Nacional, Peñarol e Wanderers –, e conquistou fama planetária atuando pela seleção de seu país nas Olimpíadas de Verão de Paris, em 1924, quando o Uruguai arrasou. Ainda não havia a Copa do Mundo da Fifa. Quatro anos depois, nas Olimpíadas de Amsterdã, novamente a “celeste” seleção uruguaia foi campeã, e Andrade considerado o melhor jogador do mundo. Seus movimentos em campo eram descritos como os de um felino negro. Foi o primeiro jogador afro a pisar os gramados europeus, o que lhe rendeu o epíteto de “Maravilha Negra”. Décadas depois, ele passou a ser chamado de “Pelé dos anos 20”. Dizem que, numa das excursões do Nacional pelos Estados Unidos, depois da partida, os atletas foram a uma boate, onde tocava um jovem trompetista de New Orleans, nascido apenas dois meses antes de José Leandro Andrade. Ao som do jazz, o esportista rodopiava com tanta elegância, salão afora, que inspirou uma sucessão de improvisos do músico, cada vez mais brilhantes. Tempos depois, Louis Armstrong teria comentado que conheceu poucos dançarinos do gabarito de Andrade.

Os ritmos e a música estavam em seu sangue. Anualmente Andrade era visto brincando o carnaval pelas ruas de Montevidéu, tocando tamborim ou violino, no famoso bloco carnavalesco Lulobos. A fama, tanto nos gramados quanto nas pistas dos cabarés, fazia dele um solteiro cobiçado pelas mulheres. Ele, porém, não escondia seu grande sonho de boêmio: dançar com a inebriante diva norte-americana que assumira a cidadania francesa, Josephine Baker. Por essa razão, ao encerrar a carreira futebolística, mudou-se para a “Cidade Luz”, onde vivia a cantora negra mais famosa de seu tempo. Antecedido pela fama e pelos noticiários elogiosos das duas Olimpíadas, Andrade foi recebido de braços abertos pelos franceses e foi viver num dos mais luxuosos e caros hotéis parisienses da época. Sua elegância e suas performances tornaram-se rotineiros nos mais famosos cabarés de Paris. Ele também era habitué na platéia da Revue Negre, estrelada por Miss Baker. Ninguém pode afirmar, com certeza, que tenha havido um romance entre eles. A fama de namorador de mulheres famosas e bem-nascidas cultivada por Andrade, muitas vezes, foi destaque na imprensa europeia e de seu país natal. Porém, correu o mundo a notícia de, pelo menos, uma grande performance dele com Josephine Baker, dançando um tango em Paris.

 

Leve, frágil e efêmera, a tão cantada glória do atleta, sua fortuna e sua saúde, foram pouco a pouco se esgotando. Sem uma segunda profissão e abandonado pelos “amigos” dos tempos glamorosos e pelas mulheres, Andrade embarcou em um navio de volta para Montevidéu, praticamente com a roupa do corpo. Porém, ao desembarcar, vestia terno de gabardine muito bem cortado, usava o melhor chapéu da época e lenço da mais fina sede, ao pescoço. “Quem foi rei,jamais perde a majestade”. A solidão, a pobreza e as moléstias costumam caminhar parceiras. Da mesma maneira que fogem, juntas, as alegrias, a saúde e as antigas companhias. Tuberculoso, mas sem jamais se queixar, foi definhando e morreu em um asilo de Montevidéu, na mais completa solidão e miséria, três dias após completar 56 anos. Ninguém poderá confirmar, mas prefiro pensar que, pouco antes de seu último suspiro, Andrade assobiava um tango, mesmo que fracamente, enquanto, em suas lembranças, ressurgia-se jovem, lindo e famoso, nos braços da bailarina que ficou conhecida como a “Vênus Negra”.

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