O cinismo do racismo europeu no caso Vini Junior.

Zulu Araújo

Para quem milita na questão racial há mais de cinquenta anos, como eu, ver, ouvir e assistir as manifestações das autoridades espanholas de futebol no caso do racismo continuado e explicito contra o jogador brasileiro Vini Júnior, dá um nó na garganta.

Quanto cinismo, quanta hipocrisia para não ter que assumir o óbvio, a sociedade espanhola é racista. E não o é a partir do episódio com o jogador brasileiro. A discriminação e o racismo na Espanha é parte constitutiva da sua formação enquanto nação basta que a gente dê um passeio breve pela história das “conquistas” espanholas na América Latina.

Em 1.550, após um Debate na Companhia das índias, entre dois grandes sacerdotes católicos espanhóis, Bartolomeu de Las Casas e Juan Ginés Sepúlveda que a Espanha adotou o racismo e a violência como mecanismos morais e legais para suas conquistas.

Era a chamada Guerra Justa. Aprovada tanto pela Igreja Católica quanto pelo Império Espanhol para justificar as atrocidades que estariam por vir. O resultado dessa decisão foi a morte de mais de 30 milhões de indígenas na América Latina, sendo 20 milhões só no México comandado pelo genocida espanhol Hernan Cortez, com a destruição do Império Asteca, sem falar nos massacres de Francisco Pizzaro que fez o mesmo com o Império Inca. Pois bem, ambos são cantados em prosa e verso pelos espanhóis até os dias atuais.

 Afora esses fatos, não esqueçamos que foram os europeus que introduziram o tráfico de escravos transatlântico no mundo, fazendo dos seres humanos nascidos em África, meras mercadorias.

Portanto, não nos espanta esse cinismo. O que nos espanta e nos orgulha é a coragem de um jovem negro brasileiro, de apenas 22 anos ter a coragem de enfrentar essa máquina de moer gente que é o futebol mundial e lutar tenazmente contra o racismo no futebol mundial.  O que vem ocorrendo com esse jovem na Espanha precisa ser enfrentado por nós e ainda bem que as autoridades brasileiras se manifestaram de maneira firme ao seu lado, a partir do Presidente Lula e secundado pelos seus Ministros. Digo isso, pois sendo o futebol um esporte coletivo que atrai multidões no mundo inteiro, gerando por consequência ascensão social, política e financeira, qualquer coisa que ocorra nesse espaço possui dimensões globais.

Atos racistas praticados nos estádios de futebol atingem não somente o jogador, mas a família do jogador, os amigos do jogador, os torcedores, os patrocinadores e o esporte como um todo. Não podemos esquecer de que o futebol é o esporte mais popular do mundo, por conta disso não apenas a comunidade negra é alcançada por esses crimes, mas a sociedade como um todo, particularmente, aqueles que são antirracistas. Portanto, reagir de forma contundente contra o racismo no futebol, é mais que um direito do Vinicius Junior, é obrigação de todos aqueles que combatem o racismo em qualquer parte do mundo.

Não tenho dúvidas de que quanto maior a força e a mobilização dos antirracistas em apoio ao jogador brasileiro, maior será nossa vitória no combate ao racismo no futebol. Repito, não há inocentes nessa jogada, nem a La Liga, nem a Federação de Futebol, nem a justiça são inocentes nesse episódio, eles sabem da gravidade que o tema racial produz na sociedade espanhola e estão propositalmente tergiversando. A própria manipulação do arbitro do vídeo em só mostrar a cena de reação do Vini Júnior, após levar um mata leão e assim provocar sua expulsão do jogo, transformando-o de vítima em um algoz violento, diz bem da gravidade que o assunto encerra. Lamentavelmente, o racismo na Espanha, assim como no Brasil, é algo constitutivo da nação e por isso mesmo precisa ser enfrentado no dia a dia, tanto pelas autoridades competentes quanto pela sociedade, particularmente em suas manifestações coletivas.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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