Que o Brasil é o maior país negro fora da África todos sabemos — afinal, somos 56% da população, mais de 100 milhões de pessoas que se autodeclaram negras. Essa maioria também se reflete nos avanços e retrocessos dos últimos anos, não somente na questão racial, mas também nas de gênero e dos grupos historicamente violentados na sociedade brasileira.
As mulheres negras representam a maior parcela da nossa população, são elas que, proporcionalmente, mais sofrem com o desemprego, a violência doméstica e são as mais afetadas pela falta de políticas públicas como saúde, habitação, trabalho e todos os outros direitos humanos básicos para uma vida digna.
No grupo LGBTQI+, a história não é diferente. O Brasil é o país que mais mata pessoas dessa comunidade em todo o mundo. “Coincidentemente”, é também o país mais negro fora da África — não por acaso, os jovens são as principais vítimas de uma violência que é racial, social e de gênero, atingindo preferencialmente os mais vulneráveis dos vulneráveis: pretos e pobres.
Nos últimos vinte anos, a pauta da inclusão racial, social e econômica ganhou mais força, e a contribuição desses grupos para o consumo e a representatividade nas empresas também se fez notar. Não por acaso, São Paulo — motor econômico do país — lidera como a cidade que realiza a maior parada LGBTQ+ do planeta, grupo este que cresceu em representatividade e participação econômica. Cerca de 3 milhões de pessoas são esperados para a parada que tem força econômica não apenas pelo apoio do seu público, mas também de grandes empresas e do poder público, que vê seus cofres aumentarem com toda essa movimentação na economia da cidade.
Porém, nos últimos anos — especialmente agora, na era Trump, marcada por um discurso avesso às políticas de diversidade — muitas empresas que antes apoiavam a Parada do Orgulho LGBTQI+ de São Paulo decidiram se afastar do evento. Isso não se deve apenas ao cenário internacional, mas reflete também a falta de autenticidade e compromisso de muitas dessas empresas com a diversidade e inclusão. Diversas marcas usavam a Parada apenas como uma oportunidade de marketing, sem realmente se comprometerem com a causa.
De acordo com dados recentes, o número de empresas que patrocinam a Parada do Orgulho LGBTQI+ de São Paulo caiu significativamente nos últimos anos. Em 2019, cerca de 50 empresas apoiaram o evento, enquanto em 2023 esse número caiu para apenas 20. Além disso, muitas das empresas que ainda patrocinam o evento o fazem de forma superficial, sem um verdadeiro engajamento com a causa.
A falta de compromisso das empresas com a diversidade e inclusão não é apenas um problema para a Parada do Orgulho LGBTQI+ de São Paulo, mas para toda a comunidade LGBTQI+. A ausência de apoio e visibilidade pode ter consequências graves para a saúde mental e física de seus membros, que já enfrentam discriminação e violência em muitos aspectos da vida.
É fundamental que as empresas que desejam se apresentar como aliadas da comunidade LGBTQI+ sejam autênticas e comprometidas com a causa. Isso significa mais do que apenas colocar uma bandeira arco-íris na porta da empresa ou fazer uma declaração pública de apoio. Significa realmente trabalhar para criar um ambiente inclusivo e seguro para todos — independentemente da orientação sexual, identidade de gênero ou raça — tanto para seus colaboradores quanto para a comunidade onde atuam e para o planeta diverso que habitamos.