O Dia Internacional da Mulher começa com a mulher negra

De Menina Pretinha à Mulher do Fim do Mundo. Pelas capas da RAÇA já passaram mulheres incríveis que cederam tempo para uma conversa sincera e abriram o coração para contar suas histórias de vida, suas experiências e, sobretudo, suas lutas em um mundo que é tantas vezes um lugar hostil para as mulheres negras.

A gente sabe e reconhece a importância política e simbólica que o Dia Internacional da Mulher representa, mas também reconhecemos que em muitos momentos ele não contemplou as necessidades de mulheres negras. Mas chegamos até aqui e não viemos sozinhas, caminhamos juntas para conseguir lugares representativos para não sermos apenas as únicas em diferentes espaços.

É um orgulho ver que caminhamos juntas, quando celebramos a primeira capa com Isabel Filardis e vemos que 25 anos depois ela volta para abrilhantar nossa edição comemorativa deixando um importante recado:

“Seja qual for a circunstância que você esteja vivendo, é possível, somos programadas para achar que não é possível. Por mais difícil que seja, por mais longo, por mais doloroso, é possível. Hoje, então, é mais possível ainda, porque hoje o Brasil se declara racista, hoje a gente está mexendo nessa ferida, hoje a gente consegue, não tem como a gente curar algo que está encoberto, escondido, submerso. Hoje, não mais, tá tudo aí, desorganizado, com as vísceras todas abertas, mas tá aí e digo que é possível, porque eu estou aqui, desorganizada, com saúde, com três filhos, um especial, uma menina de 20 anos, um menino de 7 e cuidando de mim”.

A dama do teatro, Ruth de Souza, que começou ao lado de Abdias do Nascimento no Teatro Experimental do Negro também é uma grande referência que deixou sua marca para as atrizes que vieram depois e para nossos leitores quando foi capa ao lado de Roberta Rodrigues e Luellen de Castro: “Agora já dá pra nos reconhecer em mais lugares. Não está maravilhoso, mas avançamos muito! Sonhamos tanto em ter negros protagonistas e tivemos Taís Araújo e Lázaro Ramos lavando a alma de todos nós, artistas negros, atuando nos papéis principais. Satisfeita? Não estou. Falta muito a percorrer. Mas reclamar não adianta, é preciso fazer acontecer. E tem muita gente fazendo”.

Nós também ouvimos da jornalista Maria Julia Coutinho a importância de ocupar espaços na televisão: “É importante ocupar esse espaço em que eu estou, de certa forma, de representar algo para essas crianças, e espero que seja algo bom, mas sempre também com cautela para não pirar”.

Erika Hilton, a vereadora mais votada no Brasil, uma mulher trans negra que está na câmara dos vereadores de São Paulo também trouxe ensinamentos valiosos de que só podemos avançar como sociedade se mulheres negras avançarem: “A transformação, a revolução, está nas mãos da juventude, está nas mãos da negritude, está nas mãos das mulheres. Sigamos unidas, sigamos fortes, sigamos juntas, sigamos de pé, sem jamais perder a esperança. E não é aquela esperança religiosa, mas aquela esperança de Paulo Freire, a esperança do esperançar, do fazer, do concretizar”.

Vimos na trajetória de Mc Soffia, que recentemente completou 18 anos e notamos como foi importante acompanhar seu crescimento cercada por referências tão poderosas, como ela mesma nos contou: “Minhas grandes e principais inspirações são Beyoncé, Nicki Minaj e Rihanna. Mas com a nova geração de cantoras eu estou gostando bastante da Lizzo, Normani, Iza e Ludmilla -essa eu sempre gostei também – porque são maravilhosas. E da MC Soffia também, minha maior inspiração(risos)”.

Elza Soares, um ícone, uma referência para o mundo, que faleceu em janeiro, também deixou seu recado por aqui. “O sentido da palavra empoderamento é muito mais importante que uma simples expressão. É dar o direito de nós, das mulheres, dos pretes (sic), das comunidades, ao poder da dignidade, porque quando temos dignidade, acesso, respeito, a gente se sente mais segura para fazer da vida o que a gente quiser fazer. Então eu digo: mulheres, já chega de sofrer caladas. Vamos lutar dia a dia pelo direito que é nosso e não pode ser
menor do que o direito de ninguém”.

De 8 de março à 25 de julho, a luta das mulheres é essencialmente a luta de mulheres negras, porque se não avançamos, a sociedade não avança. Angela Davis deu esse alerta que continua sendo importante e fundamental.

Que o Dia Internacional da Mulher inclua aquelas que estão nas bases dessa luta.

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