O empreendedorismo de mulheres negras

Nzingas pelo mundo

por CAROL BARRETO | assistente DAVID SANTOS

Dados recentes demonstram que as mulheres negras integram o grupo mais vulnerável à pandemia da Covid-19, apontando que 36% das empreendedoras negras estão com a atividade interrompida temporariamente, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae com a FGV. Historicamente, mulheres negras que ocupam posições de liderança no âmbito prossional e familiar, prezam pela autonomia e defendem a independência feminina no mercado de trabalho.

Inspiradas na herança das suas antepassadas, que mercavam na cidade de São Salvador para comprar suas cartas de alforria, duas mulheres pretas soteropolitanas criaram uma empresa que atua em diversas áreas e diante desses fatos, podemos pensar: Esses negócios surgem por conta do nosso talento ou pela factível exclusão no mercado corporativo?

Idealizada pelas irmãs Cecília Cadile e Gisele Matamba, em 2019, em Salvador (BA), a Boutique Matamba usa a historiogra a para construir suas roupas, sua culinária, decoração e recepção dos eventos promovidos pela equipe Matamba, desde 2013.  

“A Matamba mostra o que há de mais puro e essencial na existência: a auto-transcendência, onde você mesma pode ser o sua agente de cura”

O nome da marca estabelece uma interligação com as raízes que ancoram as designers, com o simbolismo da luta pela soberania africana no reino de Matamba e a in uência feminina de Rainha Nzinga no legado cultural da diáspora.

A Boutique Matamba eleva as memórias da luta da população negra e “quer mostrar o que há de mais puro e essencial em sua existência: a autotranscendência, onde você mesma pode ser o sua agente de cura”.

A coleção “Nzingas Pelo Mundo”, com peças criadas para os mais íntimos espaços da existência das mulheres negras, pretende captar sensações e distribuir cultura pelo mundo, mostrando como é possível prover outras narrativas, conhecer outras histórias, apreciar outras experiências afrodiaspóricas pelas mulheres dispostas a desbravar o mundo. A coleção foi criada por Cecília Cadile, com a curadoria dos tecidos originais de África, pela idealizadora e sócia da marca, Gisele Matamba, que sugeriu uma paleta de cores e formas selecionadas, afim de transmitir a essência e o repertório cultural da marca.

A Coleção traz a influência e o legado de Rainha Nzinga para a diáspora afro-atlântica, que durante o século XVII conquistou o reino de Matamba e o governou com o remanescente representante do reino de Ndongo por três décadas, onde desafiou treze governadores portugueses de Angola. Nesse espaço-tempo-agora, ser Nzinga é ter um corpo consciente da sua carga histórica, política e ancestral.

O diferencial criativo no desenvolvimento da coleção “Nzinga pelo Mundo”, contou com a participação da designer de moda baiana Claudia Soares, onde criação/modelagem, conceitos integrados e característicos do seu estilo de trabalho, conduziram o projeto, redirecionando parte da matéria-prima utilizada como ponto chave nos processos. A partir de metodologias que têm como objetivo o desenvolvimento sustentável, as designers ressignificaram a aplicação de materiais descartados, explorando estampas afro com tons fortes e marcantes nas composições dos looks. O resultado foi a construção de novas padronagens e bordados aplicados, onde linhas simbolizam a continuidade da ancestralidade, com um toque minimalista e atemporal infundido com a tradição da arte afro contemporânea.

“Nesse espaço – tempo – agora, ser Nzinga é ter um corpo consciente da sua carga histórica, política e ancestral”

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