O impacto do racismo na saúde

É a primeira vez que os danos pelo racismo na área da saúde ganham certo destaque nas discussões do setor e isso indica o início de algumas mudanças.

Uma pesquisa foi feita por cientistas internacionais e os artigos foram publicados no The Lancet. O resultado entende com dados atualizados como funciona o atendimento médico, a saúde e a vida de pessoas negras.

“A causa de tamanha distinção na forma como negros e brancos são tratados nos sistemas de saúde é o racismo estrutural e interpessoal”, afirmou a VEJA Delan Devakumar, da Universidade College London, autor principal dos textos divulgados.

O olhar mais atento foi despertado pelo gatilho dos alarmantes dos números extraídos da pandemia de Covid-19. Como por exemplo, no Brasil um recorte feito pela PUC do Rio de Janeiro mostrou que a infecção pelo novo coronavírus matou 55% dos negros contaminados em 2020. Entre os brancos, o índice foi de 38%.

Na prática, isso se traduz em estragos de amplitudes às vezes nem sequer notadas. Como explicar que profissionais em formação — não apenas médicos, mas todos os envolvidos no cuidado de pacientes — raramente são informados sobre predisposições da população negra a determinadas doenças, como o câncer de próstata ou a hipertensão? Só isso faria diferença na medida em que obrigaria um olhar ainda mais atento durante o acompanhamento dessas pessoas especialmente em países como o Brasil, onde mais da metade da população é negra. Outros danos são bem mais evidentes.

Os mais frequentes são a negligência no atendimento por conta da cor da pele e os obstáculos no acesso aos serviços, seja por ausência ou insuficiência de unidades nas áreas onde são maioria ou incapacidade financeira de bancar assistência à saúde privada.

O resultado da engrenagem é vergonhoso e se reflete no controle mais precário de todas as enfermidades. “O diagnóstico em estágio avançado do câncer de colo de útero é mais frequente entre as negras e há menor sobrevida quando comparada à das brancas”, diz a oncologista Clarissa Mathias, do Grupo Oncoclínicas. Recentemente, o serviço realizou um painel sobre diversidade no 10º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute, centro americano reconhecido pela excelência no combate à doença, durante o qual a iniquidade no atendimento de negros foi um dos destaques.

O problema não para aí. No caso do câncer — e de diversas outras enfermidades —, essa população não costuma integrar os estudos que validam a eficácia de medicamentos. “Apenas de 3% a 5 % dos pacientes incluídos em pesquisas de drogas oncológicas são pretos. Se não estão representados, não há garantias de que o remédio será efetivo neles”, afirma a oncologista Abna Vieira, da Oncoclínicas.

Os artigos concluem que por trás desses números são reveladas as diferenças ocasionadas por toda a a gama de injustiças e desigualdades que nós, historicamente, estamos submetidos.

Fonte: VEJA

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?