Revista Raça Brasil

Compartilhe

O Jejum é somente de Carne e Não de Racismo

Picture of Hamalli Alcântara

Hamalli Alcântara

Vice-presidente do Grupo Raça Comunicações. Responsável pelo processo de criação, realização e edição da Revista Raça Brasil. Administra os recursos técnicos, artísticos e administrativos dos principais projetos do Grupo Raça Brasil: Revista, Área Digital e Fórum Brasil Diverso.

É chegada a tão esperada Sexta-feira Santa, um dia marcado por tradições, reflexões e, claro, aquela famosa pausa na carne que faz com que muitos devotos católicos sintam-se santos e etéreos. É o dia em que os supermercados se enchem de peixes, as receitas de bacalhau são passadas adiante e um certo aroma de “sacrifício” paira no ar. Mas, enquanto muitos trocam o bife por uma posta de salmão, fico me perguntando: e o jejum do racismo, hein? Esse, parece que poucos se lembram de praticar.

Vamos lá, colegas católicos! Se a ideia é se abster de carne em nome da fé, que tal também abstermos a língua de alguns comentários desagradáveis? O que adianta não comer churrasco no dia da crucificação se, no outro dia, você sai falando que “aquela pessoa não faz nada, só porque não tem a mesma cor de pele que a sua”? Ah, meu caro, você pode estar evitando o peito de frango, mas está recheado de preconceito.

É curioso ver como a ideia de sacrifício se limita ao alimento. Algumas pessoas se sentem verdadeiros mártires por deixarem de lado o filé no prato, mas continuam a ignorar as questões sociais que cercam a nossa sociedade. O mesmo discurso que ecoa nas igrejas sobre amor ao próximo parece se afastar instantaneamente ao sairmos do templo. É como se o “Amo ao meu próximo” fosse seguido, nas entrelinhas, por um “desde que ele não seja diferente de mim”.

E o que dizer daquela frase clássica: “Ah, mas eu não sou racista. Tenho amigos negros!” É, minha gente, não é assim que funciona. Usar a própria companhia diversificada como um escudo contra o racismo é o famoso “jejum do racismo” que nunca sai do papel. Um peixe na sexta não purifica o coração.

Se na Sexta-feira Santa todos nós somos convidados a refletir, por que não expandir esta reflexão? O convite não é apenas para trocarmos carne por peixe, mas também para trocarmos preconceitos por empatia. Afinal, o verdadeiro sacrifício não está em deixar de comer um prato específico, mas em deixar de lado as ideias tóxicas que nos separam.

Portanto, caros jejuadores, da próxima vez que forem cortar o bife, que tal cortar também aqueles pensamentos racistas que insistem em se alojar na mente? Em vez de jejuar apenas das carnes, jejuemos das palavras que ferem. Se vamos praticar uma devoção, que seja uma cheia de amor e respeito, não apenas aos domingos e sextas-feiras, mas em todos os dias do ano. Afinal, carne é só carne, mas o racismo? Esse é um prato que não deve ser servido em nenhuma mesa.

E lembrem-se: um coração leve tem muito mais sabor do que qualquer refeição!

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?