O ritmo tradicionalmente nordestino rompeu as fronteiras para conquistar outros estados. Esse é o tema da coluna de Oswaldo Faustino
TEXTO: Oswaldo Faustino | Adaptação web: David Pereira
O ritmo do Maracatu é tradicionalmente nordestino
Sequestrados, escravizados, trazidos para o lado de cá da Kalunga Grande – o Oceano Atlântico – e vendidos como “peças”, homens e mulheres africanas reconquistaram sua dignidade reconstruindo sua religiosidade e coroando seus reis e rainhas. Daí a existência de tantas manifestações culturais, Brasil afora, que têm o reino do Congo como referência. Em Pernambuco, essa coroação ganhou o nome de Maracatu e se caracteriza pelo batuque pesado à base de alfaias (tambores grandes), caixas de guerra, agbés (ou xequerês), gonguês, atabaques, ganzás e maracas, entre outros instrumentos de percussão.
O Maracatu Baque Virado ou Maracatu Nação vai muito além de um grupo carnavalesco. Traz consigo uma tradição em que o sagrado se engendra ao profano. Com danças e batuques, louvam-se Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e os orixás africanos, num cortejo que traz à frente um estandarte.
Ao porta-estandarte, seguem-se, entre outros, personagens fundamentais: o rei e a rainha, protegidos pelo pálio – um grande guarda-sol –, levado por um pajem; as damas do paço, com suas calungas, bonecas que representam os ancestrais; a corte; as yabás (baianas de branco); as catirinas; o mestre de toadas que “puxa” o canto e, em alguns, também comanda batuque.
O grupo Quiloa foi fundado na Baixada Santista
O Maracatu em outros estados
A relação entre os batuqueiros do Maracatu e os ogãs do Candomblé é direta. As Nações nascem nos terreiros e podem integrar outros grupos fora dessa casa religiosa. O Quiloa, fundado por músicos, estudantes universitários e professores da Baixada Santista, faz parte da Nação Nagô Porto Rico, de Recife, cujo mestre de toada, Shacon Vianna, é ogã em um terreiro na comunidade do Bode, do bairro do Pina, na capital pernambucana. Felipe Romano, o líder desse Maracatu, conta que, durante um arrastão de Maracatu de Baque Virado, em 2003, na Feira Nordestina, em São Paulo, ele e alguns amigos foram arrebatados por essa cultura. O site na internet – quiloa.com.br – estampa o selo: “1º Maracatu fora de Pernambuco, no carnaval de Recife”. Anualmente, parte desse grupo viaja àquela cidade e a Olinda, para beber na fonte os saberes e, assim, manter a autenticidade e fidelidade a seus fundamentos culturais.
Pesquisas, estudos e intercâmbios fazem parte de suas atividades, além de encontros com mestres e praticantes da cultura pernambucana. Em sua sede, na região central de Santos, acontecem os ensaios e demais atividades também do Grupo Rebolo. Há aulas de dança, teatro, clínicas de manutenção e construção de alegorias, figurinos, instrumentos musicais e elementos cênicos. Desta maneira, o Quiloa cumpre sua missão de “fortalecer a cultura popular” e ajuda a revitalizar o Centro Histórico da cidade de Santos.
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