Enquanto o ouro bate recordes no mercado global, sua extração no Sahel sustenta regimes autoritários e grupos armados. A região, já castigada por conflitos e instabilidade política, vê no metal precioso uma fonte de riqueza que só alimenta mais violência.
Os governos militares do Mali, Níger e Burkina Faso dependem do ouro para manter seu poder. Parcerias com empresas russas e mercenários garantem apoio em troca de concessões minerais. O discurso de soberania nacional mascara uma economia de guerra, onde o metal financia repressão.
Grupos extremistas também se beneficiam. Organizações como o JNIM, ligado à al-Qaeda, controlam minas ilegais e usam o lucro para expandir seus ataques. Segundo a ONU, grande parte desse ouro segue para os Emirados Árabes, onde entra no mercado internacional sem rastreamento.
Tentativas de regulamentação esbarram na falta de fiscalização. Enquanto a LBMA tenta impor padrões éticos, os Emirados adotam regras voluntárias. Sem um sistema eficaz de rastreamento, o “ouro de sangue” continua circulando livremente.
Os verdadeiros trabalhadores do setor são os que menos ganham. Mineradores artesanais arriscam a vida por menos de US$ 36 por dia, enquanto o lucro vai para governos, milícias e intermediários. A alta no preço internacional não chega a quem extrai o metal.
Enquanto o mundo busca ouro como refúgio financeiro, o Sahel paga o preço em violência. Sem ações concretas da comunidade internacional, o comércio continuará alimentando conflitos e sufocando qualquer chance de paz na região.