Lula recebeu uma série de indicações de juristas negras para ocupar a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal após a aposentadoria de Luís Roberto Barroso. O movimento, liderado por organizações da sociedade civil e representantes do meio jurídico, busca incentivar o presidente a escolher uma mulher negra para o cargo o que seria um marco histórico na mais alta Corte do país.
Entre os nomes apresentados ao governo, destaca-se o da ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral e vice-diretora da Escola Judiciária Eleitoral, Vera Lúcia Santana Araújo, baiana radicada em Brasília desde 1978. Advogada de trajetória ampla e plural, Vera Lúcia construiu uma carreira marcada pela defesa da cidadania, da democracia e dos direitos humanos. Atuou na Defensoria Pública, nas áreas trabalhista e sindical, foi procuradora jurídica de autarquias e chefiou serviços jurídicos em níveis federal e distrital.
Com uma trajetória de forte compromisso público, Vera Lúcia foi conselheira da Comissão de Anistia Política, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e do Conselhão. Também integrou a Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia e, atualmente, compõe a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB. É ainda integrante do Instituto dos Advogados do Brasil, do Grupo Prerrogativas e da Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal.
A pressão por representatividade reflete uma pauta histórica: em mais de 130 anos, o STF teve apenas três ministras todas brancas e jamais uma mulher negra. A eventual indicação de Vera Lúcia Santana simbolizaria não apenas um avanço na diversidade, mas também a valorização de uma trajetória construída com competência, compromisso social e engajamento político.
No entanto, cresce a expectativa de que o governo opte por um homem branco, cenário que reacende críticas sobre a falta de pluralidade na composição do Supremo. Em 134 anos, a Corte jamais teve uma mulher negra, apesar de ser o espaço onde se decidem direitos fundamentais sobre o corpo, o trabalho e a terra temas que impactam diretamente mulheres, pessoas negras e populações periféricas. Essa ausência de vozes diversas nas decisões mais importantes do país reforça a urgência de uma composição mais plural e representativa.
Mais do que uma decisão técnica, a escolha para o STF tornou-se um ato político e simbólico, capaz de redefinir o futuro do Judiciário e de consolidar um legado de inclusão e democracia no país.