Okun
Sinônimo de força e fibra em Yorubá, o Editorial Okun traz o protagonismo das mulheres negras como alicerce principal, manifestando a sua representatividade e força em diversos espaços para garantir o seu protagonismo e autonomia através de muitas lutas.
Nas fotografias, um dos elementos de grande expressão é o fundamento do uso da vestimenta branca nas religiões de matrizes africana, onde cultuamos Orixás e outras entidades espirituais. A cor branca contém dentro de si todas as demais cores, assim como a Irradiação de Oxalá contém dentro de sua estrutura cósmico-astral todas as demais irradiações (Oxum, Iansã, Oxossi, Ogum, Xangô, etc.). Definida como “a cor da luz”, o branco reflete todas as cores como uma espécie de escudo contra energias negativas que estão no entorno e esse costume é reproduzido por grande parte da população brasileira nos rituais de passagem do ano.
Na física, se comprovou que a luz branca é uma combinação de diferentes cores, através do fenômeno de decomposição da luz e seja no espaço religioso ou em outros significativos rituais sociais, como a cerimônia de casamento de origem europeia, a roupa branca carrega diversas intencionalidades e significados. Na história da moda, registros apontam que o vestido branco para o casamento se popularizou após a rainha Vitória da Inglaterra, no século XIX, usar um modelo de renda feita à mão. Aponta-se que ela foi a primeira mulher da nobreza europeia a se casar por amor, e também lançou a moda do véu e do buquê com pequenas flores brancas.
O editorial Okun carrega história, tanto na locação – o Solar Amado Bahia, localizado na Avenida Porto dos Taineiros, na orla da Ribeira, na Cidade Baixa de Salvador – BA – como nas roupas da Coleção Asè, da estilista baiana Carol Barreto, construídas por diferentes elementos cotidianos como a colcha de cama com bordado richelieu, usada na década de 1950 como enxoval de casamento dos seus avós, assim como outros materiais típicos de casas populares nordestinas que resgatam a memória afetiva das famílias negras.
Num contraponto, soma-se a carga semântica dos vestidos de noiva do século XIX, que fazem parte de acervo pessoal e foram restaurados por Rafael Zu. Com suas mangas bufantes representando as negociações entre as imposições da cultura hegemônica e a integração da população negra na sociedade racista, assumindo para si elementos da branquitude e muitas vezes compondo registros fotográficos apenas nessas ocasiões e com indumentária europeizada. Juntas, as peças representam a força e a beleza da mulher negra, que mesmo com todas as barreiras que as cercam têm conquistado seu espaço na sociedade.
Com brilhante atuação das modelos internacionais – Suzana e Suzane Massena – as gêmeas que já desfilaram nas principais semanas de moda do Brasil, na África do Sul e Estados Unidos, carregam no curriculum importantes publicações como a Vogue Japão e editorial de moda com Naomi Campbell.
O Editorial Okun é assinado por AZU, um duo criativo de fotógrafos: Edgar Azvdo, formado em Fotografia Artística e Rafael Zu, graduado em Design de Moda. A dupla traz em sua bagagem referências da afro-brasilidade e da arte contemporânea, traçando um novo olhar para a fotografia de moda, com história, sentimento e política.
Editorial Okun
Fotografia: Edgar Azevedo e Rafael Zu
Modelos: Suzana Massena e Suzane Massena – L’equipe Agence
Retouch: Edgar Azevedo
Designer de Moda: Carol Barreto
Stylist: Rafael Zu
Roupas Acervo: Dipanda
Jóias: Silvana Grappi
Hair: Raquel Domingos
Beleza: Bruna Barreto
Assistente de Beleza: Flora Boxus
Assistentes de produção: Nanci Meire, Rafael Malazart, João Estevam e Elis Brito.
CAROL BARRETO
Mulher Negra, Feminista e como Designer de Moda Autoral elabora produtos e imagens de moda a partir de reflexões sobre as relações étnico-raciais e de gênero. Professora Adjunta do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade – FFCH – UFBA e Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade – IHAC – UFBA, pesquisa a relação entre Moda e Ativismo Político.
*Este artigo reflete as opiniões do autor. A Revista Raça não se responsabiliza e não pode ser responsabilizada pelos conceitos ou opiniões de nossos colunistas