Olímpiadas de 1968 – Discriminação e Punição para todo o mundo ver.

Colunista: Zulu Araújo

Um dos episódios mais vergonhosos dos Jogos Olímpicos em todos os tempos, foi a punição imposta pelo Comitê Olímpico Internacional, a dois medalhistas negros (norte-americanos), Tommie Smith, (ouro) e John Carlos (bronze) nos 400 e 200 metros rasos, por levantarem seus punhos cerrados, numa saudação ao “Black Power” durante a cerimônia de entrega das medalhas.

Além de punidos com a perda das medalhas eles foram expulsos pelo Presidente do COI – Avery Brundage (1952–1972), que posteriormente foi eleito Presidente Honorário Vitalício do COI. Brundage  era norte americano, que tinha defendido as olímpiadas em Berlim, durante o governo nazista,  e declaradamente racista. Ele era tão radical que acompanhou pessoalmente a expulsão dos atletas negros.

Mas, a punição foi pior ainda. Ao retornarem aos Estados Unidos, dos dois atletas perderam, além das medalhas, seus empregos  e foram duramente perseguidos durante anos. Mas, 40 anos depois perguntado sobre o seu gesto, Tommie Smith, (ouro olímpico), respondeu:

“Foi um ato de ativismo, algo tinha que ser feito. Foi feito por uma razão: a justiça social ignorada pelos homens, aqueles que não acreditavam nos direitos humanos, ou que não acreditavam na necessidade de refletir sobre o tratamento dos direitos humanos”

O nome disso é Consciência Negra!

Nesta mesma Olímpiada, amis 5 atletas negros norte-americanos também foram expulsos pelos Estados Unidos por terem se solidarizado com os dois primeiros. Essas atitudes revelaram o quanto era falacioso o discurso de que os Jogos Olímpicos eram o espaço da igualdade e da confraternização.

Mas, em certa medida, essa tragédia estava anunciada. O México, à época, possuía uma das ditaduras mais ferozes da América Latina, embora de forma disfarçada, por conta do crescimento econômico que o país vivia. O país era presidido por Gustavo Díaz Ordaz, q que reprimia violentamente o movimento estudantil e ameaçava qualquer um que se opusesse ao regime. Segundo Mário Vargas Llosa (escritor consagrado), “o México vivia a ditadura perfeita”.

Um mês antes do início das Olímpiadas, após uma passeata de mais de 80 mil estudantes, liderada pelo Reitor da UNAM – Universidade Nacional Autônoma do México, Javier Barrios Sierra, que exigia a autonomia das universidades. O movimento foi duramente reprimido pelo Governo, com tropas do Exército invadindo e ocupando universidades, prendendo professores e estudantes e muita pancadaria.

Ao ser criticado pela repressão implacável o Presidente do México assim respondeu:

“Fomos tolerantes, até criticamos os excessos. Mas tudo tem limite e também não podemos permitir que a ordem jurídica continue irremediavelmente quebrada, aos olhos de todos. Foi o que aconteceu”

Não nos esqueçamos de que o ano de 1968, foi também o ano dos assassinatos de Martin Luther King e Robert Kenedy nos Estados Unidos, do fortalecimento do Movimento dos Panteras Negras, liderado por Ângela Davis, na luta por Direitos Civis,

Por isso mesmo, tanto para o Governo Mexicano como para o Comitê Olímpico Internacional era impensável permitir que manifestações que pudessem colocar em risco seus interesses, prosperassem.

Enfim, se há uma lição que podemos tirar dos Jogos Olímpicos de 1968, é que com o Racismo não se brinca. Se combate. E viva os nossos heróis vivos – Tommie Smith, (ouro)) e John Carlos (bronze).

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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