Olodum 45 anos tocando nos mesmo assuntos – Igualdade, Cultura e Cidadania.
Colunista: Zulu Araújo.
“Olodum, negro elite é negritude,
Deslumbrante encanto é magnitude
Integra no canto toda massa
Que vem para a praça se agitar
Salvador se mostrou mais alerta
Com o afro Olodum a cantar…”
25 de abril data importante no calendário da democracia. Dia da Revolução dos Cravos, (Portugal, 1974). A revolução foi um movimento popular e militar, mas também cultural que acabou com a brutal ditadura salazarista que durava mais de 40 anos ((Antônio de Oliveira Salazar – 1932/1974) e que infelicitou muita gente. Inclusive inúmeros países africanos que eram colônias de Portugal – Angola, Moçambique, Guiné Bissau, etc.
O símbolo maior dessa revolução foi uma flor de cravo, que era colocada na ponta das baionetas dos soldados, convocados para reprimir os revoltosos. Outro fato curioso é que várias músicas foram usadas como senha para que o movimento revolucionário tivesse sucesso.
Nesse período, o Brasil também vivia uma ditadura militar. E o povo brasileiro muito se inspirou na Revolução dos Cravos para dar fim ao nosso período ditatorial.
Cinco anos após a Revolução dos Cravos, em 1979, também no dia 25 de abril, um grupo de jovens negros criou a entidade mais poderosa que o movimento negro brasileiro já teve ao longo de sua história: O Grupo Cultural Olodum. Essa data portanto, não deixa de ser uma feliz coincidência.
Nascido no Centro Histórico da Cidade de Salvador (Pelourinho), local abandonado, estigmatizado e violentado por toda sorte de preconceitos, o Olodum surgiu como uma luz para que os seus moradores também pudesse brincar o carnaval livres das discriminações das quais eram vítimas.
E o Olodum foi e tem sido fiel ao seu propósito inicial. Ao longo dos últimos 45 anos, o Olodum não deixou um dia sequer de tocar nos mesmos assuntos: igualdade, cultura e cidadania. Direitos que eram negados aos moradores da região, por conta do racismo e do preconceito com os excluidos.
Fazendo uso da cultura, dos talentos dos seus moradores, do canto, da dança e dos tambores, e muita ousadia, o Olodum combateu o racismo, a exclusão e o preconceito de peito aberto e por isso mesmo pagou um preço alto.
Os primeiros anos do Olodum foram muito duros. Vários dos seus membros foram baleados, presos, agredidos e vilipendiados. O preconceito vinha de todo lado – era chamado do Bloco do Mangue (zona de baixo meretrício).
Mas, o Olodum resistiu e persistiu.
Por meio de suas músicas, que viraram sucesso nacional, cantou e defendeu a igualdade racial, tanto nas ruas de Salvador quanto pelo mundo afora. Nesse sentido, “Força e pudor. Liberdade ao povo do Pelô”, um dos sucessos da Banda, funcionou como um mantra que acalentou muitos corações.
Sem falar em “Faraó” que é até hoje, o maior sucesso de todos os tempos, sendo a música de carnaval mais executada do Olodum ao longo de 37 anos.
Mas, o Olodum também defendeu a cidadania, com unhas e dentes, exigindo das autoridades competentes que o Pelourinho fosse tratado com a mesma dignidade que os demais bairros da cidade do Salvador e essa luta contribuiu decisivamente para que em 1994 a restauração do Centro Histórico da Cidade, se transformasse em realidade.
Importante dizer, que o Olodum não fez nada disso sozinho, contou com o apoio e a participação de milhares de fãs, admiradores e militantes de todo o país. Dentre eles o nosso querido Mauricio Pestana, hoje CEO da Revista Raça, paulista de nascimento, mas soteropolitano por adoção (possui o título de cidadão de Salvador).
E essa contribuição é grande e vem de longe. Final da década de 80, Pestana, juntamente com seu parceiro Arnaldo Xavier, pisou os pés em Salvador pela primeira vez, à convite do Olodum, Lançou dois livros “Manual de sobrevivência do negro no Brasil” e O Negro no mercado de trabalho, com o escritor e cientista político Clóvis Moura.
Pestana também publicou com o Olodum as revistas em quadrinhos: Revolta da Chibata, Revolta dos Malês, Revolta dos Búzios. Realizou palestras e participou do Femadum (Festival do Olodum) inúmeras vezes.
Ou seja, Pestana, Revista Raça e Olodum, são faces de uma mesma moeda, formas distintas de uma mesma luta e parceiros de um mesmo ideal.
Enfim, viva o Olodum nos seus 45 anos de existência. Afinal, essa celebração é de todos nós e mais ainda daqueles que ousaram e continuam ousando sonhar que a cultura é um artigo de primeira necessidade para a humanidade, do mesmo modo que é o Olodum para a negritude.
Toca a zabumba que a terra é nossa!