Os preconceitos da Ciência com mulheres e negros

Pensamos na Ciência como objetiva e universal, mas, como tudo ela, é afetada pelo viés humano, que pode ter consequências na vida real — dependendo do seu sexo, raça e onde você mora

Pensamos na Ciência como objetiva — conclusões factuais baseadas em pesquisas, experimentos e estatísticas. Mas os experimentos científicos são concebidos por seres humanos, que são subjetivos

Isso levou a um “viés sustentado” na Ciência, com consequências para as pessoas na vida real, de acordo com Lilian Hunt, líder do programa de Igualdade, Diversidade e Inclusão da Wellcome Trust, instituição britânica de apoio à pesquisa. 

A seguir, vamos dar uma olhada em como o viés na Ciência pode ter um impacto em você — dependendo do seu sexo, raça ou onde você mora.

Ter mais mulheres e negros na indústria da ciência é uma forma de combater vieses que podem ter consequências na vida real
Ter mais mulheres e negros na indústria da ciência é uma forma de combater vieses que podem ter consequências na vida real
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Manequins para teste de colisão baseados apenas em homens

Pesquisas sugerem que, se você é homem, é mais provável que se envolva em um acidente de carro do que uma mulher. Mas, se uma mulher estiver envolvida, é mais provável que ela fique presa no veículo, de acordo com um estudo recente do Reino Unido. 

Médicos do Hospital Universitário de Plymouth analisaram dados de mais de 70 mil sobreviventes de acidentes de carro que deram entrada em centros de trauma no Reino Unido entre 2012 e 2019.

Embora os homens tenham se envolvido com mais frequência em acidentes, eles descobriram que as mulheres ficavam presas em 16% dos casos, em comparação com 9% entre os homens. 

Lauren Weekes, uma das coautoras do estudo, disse que parte do problema é porque os manequins usados nos testes de segurança dos carros ainda são desenvolvidos para as dimensões dos homens e não levam em consideração os corpos das mulheres. “Por exemplo, as mulheres têm uma taxa muito maior de lesões pélvicas, e é mais difícil sair de um carro se você quebrou a pélvis”, diz Weekes.

“Sabemos que a pélvis das mulheres, mesmo considerando a altura e o peso, são muito mais largas que as dos homens, então, os bonecos de teste de colisão usados para simular acidentes são mais parecidos com uma menina pré-adolescente de 12 anos do que uma mulher adulta.”

As mulheres correm maior risco de ficarem presas em acidentes de carro, diz um estudo do Reino Unido, em parte por causa da maneira como a segurança é projetada nos veículos
As mulheres correm maior risco de ficarem presas em acidentes de carro, diz um estudo do Reino Unido, em parte por causa da maneira como a segurança é projetada nos veículos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Livros didáticos e tecnologia cerebral ignoram pessoas não brancas

Livros didáticos usados para ensinar estudantes de Medicina sobre doenças de pele em todo o mundo ignoram há muito tempo as pessoas que não são brancas. Malone Mukwende ficou tão frustrado com isso que organizou um manual de sinais clínicos em pessoas negras chamado Mind The Gap em 2020. Na época, o estudante de Medicina negro do Reino Unido tuitou:

“Atualmente existe um viés de pele branca no ensino médico, deixando a mim e outros alienados. É vital que, como futuros profissionais médicos, estejamos cientes destas diferenças para que o atendimento ao paciente não seja comprometido.” Da mesma forma, a tecnologia amplamente usada para fazer pesquisas sobre o cérebro não funciona bem com tranças, dreads e cabelo crespo, o que efetivamente discrimina pessoas de ascendência africana.

Cientistas do Grover Lab da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, desenvolveram agora (como ilustrado no tuíte acima) uma nova técnica para combater este problema. Mas estes exemplos só surgiram nos últimos anos.

Os livros didáticos usados ​​para ensinar sobre condições da pele muitas vezes não mostram como determinada condição seria na pele negra
Os livros didáticos usados ​​para ensinar sobre condições da pele muitas vezes não mostram como determinada condição seria na pele negra
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O primeiro modelo anatômico 3D feminino

Estudantes de anatomia continuam aprendendo sobre os corpos das mulheres analisando modelos computacionais 3D baseados no físico de um homem branco. A Elsevier, empresa de pesquisa em saúde, está tentando mudar isso — e lançou o primeiro modelo anatômico 3D feminino em abril de 2022.

“Anteriormente, o ensino de anatomia se baseava sempre na forma masculina e, em seguida, as diferenças nas mulheres eram adicionadas, como um tipo estranho de complemento”, explica Clare Smith, professora de Anatomia da Brighton and Sussex Medical School, onde o novo modelo está sendo usado.

“O esqueleto feminino é um pouco mais esbelto. É incrível ver todos os detalhes realmente intrincados da pélvis feminina. Não é apenas um útero colocado dentro de uma pélvis masculina.”

A estudante de Medicina Yasmin afirma que o novo modelo “faz uma enorme diferença porque as mulheres não são apenas uma espécie de homem pequeno como os livros de costumam fazer parecer”.

O ensino de anatomia se baseia há muito tempo na forma masculina, com os órgãos femininos sendo adicionados
O ensino de anatomia se baseia há muito tempo na forma masculina, com os órgãos femininos sendo adicionados
Foto: Elsevier Health / BBC News Brasil

A saúde da mulher é ‘subfinanciada e pouco estudada’

Hunt argumenta que uma razão para o viés na Ciência que afeta injustamente as mulheres é que “a saúde das mulheres tem sido consistentemente subfinanciada e pouco estudada”. “Há muita pesquisa a ser feita sobre os problemas de saúde das mulheres, sobre maternidade, saúde menstrual — coisas que foram negligenciadas por muito tempo”, explica. Ela acredita que as razões por trás disso são todas relacionadas a poder e dinheiro.

“É fundamentalmente sobre quem controla a pesquisa e quem tem dinheiro para fazer o trabalho. Portanto, quais eles acham que são as prioridades?”

Leia mais: Terra.com

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