Escolas sob ataque: como vamos acolher quem precisa?
Por: Fábio Pereira
Sinto-me desesperançado. Leio pela imprensa que no dia 27 de março um aluno teria atacado e ferido pessoas em sua escola. Até este momento em que escrevo está confirmada a morte de uma professora, aos 71 anos. O menino autor da ação, pelo que se sabe com 13 anos, foi detido. Enlutado pela vítima fatal, pelas vidas feridas e familiares de todos, fico frustrado e deprimido por não conseguir acolher todos os envolvidos como eu gostaria.
Que respostas esperam os alunos, pais e trabalhadores escolares? Como nós, seus compatriotas, membros da mesma sociedade, podemos cuidar para que cada um deles lide com sua insegurança e ansiedade alimentadas por essa tragédia? Penso que seria importante poder ouvir cada um, dar espaço para a expressão de seus sentimentos e, até mesmo, se for o caso, ouvir com atenção cada silêncio ou cada palavra assustadora. Seria importante, a meu ver, fazer isso sem julgar. Só para que eles pudessem saber que queremos estar ao seu lado neste período em que sentem uma dor que talvez sequer consigam explicar. Ouvir não se atrevendo a compreender, explicar ou confortar. Ouvir apenas para estar. Como se fosse uma tentativa esperançosa de aliviar o desamparo e a solidão.
Ao longo da matéria online que me informa sobre o ocorrido está destacada uma fala de quem muito se espera neste momento. O governador do Estado de São Paulo, Tarcisio de Freitas, publicou em seu twitter: “Não tenho palavras para expressar a minha tristeza com a notícia do ataque a alunos e professores da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia. O adolescente de 13 anos já foi apreendido e nossos esforços estão concentrados em socorrer os feridos e acolher os familiares”.
Celebro a mensagem oficial e agradeço ao representante público por me dar mais segurança, ainda que na forma de uma promessa, de que o Estado está atento em atender os atingidos por mais um caso de violência nas escolas. Eu apenas me preocupo por ainda não saber que tipo de acolhimento. Haverá escuta?
Leio também que a presença de policiais será reforçada nas escolas. Eu me pergunto: as comunidades escolares, com membros tão diversificados, estão participando dessas decisões e de sua implantação? Gostaria de saber. Segundo apurações preliminares, o aluno que praticou a violência teria reclamado de bullying, o que não o legitima, mas pode explicar espirais de conflito. Ainda segundo relatos da imprensa, ele teria chegado às vias de fato com um outro aluno dias antes. Matéria do G1 registra: “Na porta da escola, pais relataram à reportagem da TV Globo que agressões físicas entre os alunos são constantes na escola”.
CNV nas escolas
Diante das dúvidas que me intrigam e que, compreensivelmente, não podem ser respondidas de pronto, busco saciar minha necessidade de contribuir com a solução desse tipo de flagelo escrevendo este texto e apelando ao Governador Tarcísio e à sua equipe que invistam urgentemente em esforços para uma Política Estadual de Pacificação das Escolas. Peço ajuda aos parlamentares da ALESP, da situação à oposição, para que o despretensioso conselho que segue chegue ao Palácio dos Bandeirantes.
Tal política deve ser precedida por escuta e pautada por ideias que surjam nas próprias escolas. Sem isso, o comprometimento fica prejudicado. Uma das nossas necessidades mais básicas é a autonomia. Apenas receber ordens, ditames, soluções de fora e com fundamentos coercitivos não me parece estratégia das mais eficientes. Impor geralmente não estimula que todos participem ativamente a favor de solução nenhuma, por melhor que seja.
Um exemplo de técnica para conduzir essa política é a mediação escolar. Uma vez implantada e disseminada na cultura desta escola em questão e de tantas outras, confio que cada vez teremos menos vítimas para socorrer e menos alunos para encaminhar à polícia. O processo de mediação pode ainda ser reforçado com o ensino e prática de Comunicação Não-Violenta (CNV) nas salas de aula, pois essa forma de ver e de entender o mundo contribui amplamente para que os conflitos cotidianos se transformem e não se avolumem.
E adianto aos que desconhecem essa técnica e precisam de mais informações para confiar nela: a CNV não carece ser testada, mas implantada. A literatura que é fruto dos trabalhos de seu propositor, Marshall Rosenberg, registra que ela conquistou excelente resultados em mais de 40 anos de aplicação prática por ele mesmo e por seus alunos diretos e indiretos, inclusive em zonas de guerra. Não queremos que nossas escolas sejam comparadas a cenários belicosos e, por isso, urge pacificar esses espaços dando vez e voz a todos os seus integrantes.
Essa pacificação deve chegar na origem dos conflitos, com antecedência, preventivamente, antes do pior. Não quando os casos estampam manchetes, comovem o mundo e nos revoltam. *Fábio Pereira é jornalista, mediador de conflitos e facilitador de Comunicação Não-Violenta (CNV). Integra a ONG CNV em Rede e coordena a Câmara de Mediação Pacific