Na última quinta-feira (10), uma cena que deveria ser apenas mais um registro de aeroporto se transformou em um retrato doloroso do racismo estrutural. A atriz Maisa Silva desembarcava no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, acompanhada de seu pai, Celso Andrade, quando um paparazzo gravou os dois e, ao narrar o vídeo, referiu-se ao homem como “o segurança”.
Celso é um homem negro. Maisa, de pele clara. E bastou isso para que o vínculo entre pai e filha fosse invisibilizado por um estereótipo antigo e cruel.
O vídeo foi publicado no TikTok pelo fotógrafo Gabriel Rangel. Nele, Celso aparece segurando malas enquanto Maisa atende um fã e, em seguida, os dois caminham juntos. “Acompanhada do segurança”, diz o fotógrafo ao filmar o momento.
A reação nas redes sociais foi rápida e firme. “Mais uma vez confundem o pai da Maisa com segurança, motorista… Ele é chamado de tudo, menos de pai. Acho que nem precisa dizer o nome disso, né?”, escreveu uma usuária no X (antigo Twitter). Para muitos, a fala não foi apenas um erro, mas o reflexo de um olhar social que insiste em enxergar pessoas negras fora dos espaços de afeto, cuidado e autoridade.
Nos comentários do vídeo, internautas informaram ao fotógrafo que Celso é pai da atriz. Rangel, que se autodeclara negro, se desculpou e afirmou que não houve má intenção. Ele também contou já ter passado por situações semelhantes em locais públicos, sendo confundido com criminoso mesmo enquanto trabalhava como fotógrafo. “Por isso mesmo, eu repudio qualquer tipo de preconceito e luto contra ele”, disse.
Apesar das desculpas, o episódio escancarou como o racismo se manifesta não só em agressões diretas, mas também em suposições automáticas, em olhares enviesados e na dificuldade de enxergar um homem negro como pai, companheiro, ou simplesmente alguém que está ali por amor e presença — não por função.
Celso estava ao lado da filha. Era apenas isso. E isso, por si só, deveria bastar.
