Paixão de Cristo teve Jesus e Maria negros

“A cruz é representada pelo próprio homem de braços abertos, o peso da vida que ele carrega”, explica o diretor Ginaldo de Souza sobre a ausência da estrutura de madeira na encenação da “Paixão de Cristo” que aconteceu nesta sexta-feira (dia 15), a partir das 18h, na Praça da Via Light, em Nova Iguaçu. O tradicional espetáculo religioso voltou a acontecer ao ar livre, após dois anos críticos de pandemia, com grande elenco, tanto em quantidade quanto em qualidade.

O texto de Benjamin Santos, afinado com a direção da montagem, faz um paralelo entre a morte de Cristo e a de pessoas de comunidades pobres.

— Comparamos a dor de Maria à das mães que perdem seus filhos injustamente assassinados, por bala perdida, facada, tortura — adianta Ginaldo.

Como protagonistas da história bíblica, Thiago Justino e Zezé Motta.

— Essa é a primeira vez que participo de uma montagem com temática religiosa. Estou muito feliz e emocionado, acho que Jesus é o maior personagem que um ator poderia interpretar. O maior dos maiores — afirma Justino, que se diz politeísta, por reunir crenças do catolicismo, do candomblé e do budismo: — Na minha vida pessoal, eu já tinha uma ligação muito forte com Jesus. Minha ex-mulher O canalizava num trabalho de astrologia cármica. Em muitas mensagens que recebi através dela, ouvi que eu fazia o trabalho dEle aqui na Terra. Eu acreditei nisso. Hoje, como ator, incorporo essa figura. Pra mim, é mágico. Sinto que será um marco na minha carreira: Thiago Justino a.C. e d.C, antes e depois de Cristo.

Adepta do kardecismo, Zezé segue a tradição católica de não comer carne vermelha na Sexta-feira Santa. E aproveita a Páscoa para fazer uma reflexão mais profunda sobre sua fé.

— Representar Maria na “Paixão de Cristo” é um privilégio para mim, que no início da carreira só fazia personagens subalternos. Ginaldo está de parabéns por ter em sua montagem uma Maria e um Jesus negros, desmistificando essa balela de que Cristo era loiro de olhos azuis — observa a atriz, citando semelhanças com sua personagem: — Também sou uma mãezona, atenciosa, generosa e muito presente na vida de meus filhos.

A encenação revisita momentos emblemáticos, como a entrada de Jesus em Jerusalém, o Sermão da Montanha, a Santa Ceia, a prisão, a crucificação e, por fim, a ressurreição de Cristo. A caracterizadora Cris Regis revela do que é feito o sangue cenográfico que escorre no corpo de Jesus:

— É uma espécie de xarope, que se faz com mel, corante e água.

O espaço será ocupado por um cenário amplo, em três níveis e com arquibancadas, para receber um elenco de 28 atores e 80 figurantes.

— Cerca de 400 figurinos foram alugados, e mandamos confeccionar 85 roupas para a procissão do Senhor morto — detalha o diretor de produção Oscar José: — As cantoras Renata Cabral, que tem uma voz muito parecida com a de Nana Caymmi, e Anna Hannickel, que é lírica, vão se apresentar.

Nomes conhecidos do grande público, como Tonico Pereira (Judas Iscariotes), Stepan Nercessian (Pôncio Pilatos), David Pinheiro (Herodes), Ana Botafogo e João Velho (anjos), Angela Vieira, Inez Viana e Isadora Ribeiro (mulheres de Jerusalém) também estão confirmados em cena.

— Meu personagem, hoje em dia, representa o cancelamento sem fundamento. Tem muita gente lavando as mãos e deixando vários Cristos serem crucificados e assassinados — compara Stepan Nercessian.

O veterano Tonico Pereira conta que a primeira vez que pisou num tablado foi fazendo o papel de Cristo numa “Paixão”, aos 8 ou 9 anos de idade, e que este é o único texto de que se recorda, de todos os que já falou em sua longa carreira. Agora, mesmo interpretando o traidor da história, o ator encontra uma identificação com seu papel:

— Eu me identifico com Judas por seu arrependimento. Acho que esse é um dos atos mais inteligentes do ser humano. E são poucos os que se arrependem…

João Velho também passou pela experiência de encenar a “Paixão” ainda criança:

— Eu tinha uns 6 anos. No momento em que Jesus falava “Vinde a mim as criancinhas”, era, Rocco e Camila Pitanga corríamos para perto dele. Na época, meu pai, Paulo César Pereio, fazia o Pôncio Pilatos.

Hoje agnóstico, ele diz que sempre foi orientado pela mãe, Cissa Guimarães, a seguir as tradições de sacrifícios e jejuns da Quaresma. E revela que foi inevitável se emocionar durante os ensaios da peça, especialmente no momento em que Maria percebe o filho morto.

João Velho também passou pela experiência de encenar a “Paixão” ainda criança:

— Eu tinha uns 6 anos. No momento em que Jesus falava “Vinde a mim as criancinhas”, era, Rocco e Camila Pitanga corríamos para perto dele. Na época, meu pai, Paulo César Pereio, fazia o Pôncio Pilatos.

Hoje agnóstico, ele diz que sempre foi orientado pela mãe, Cissa Guimarães, a seguir as tradições de sacrifícios e jejuns da Quaresma. E revela que foi inevitável se emocionar durante os ensaios da peça, especialmente no momento em que Maria percebe o filho morto.

Montagens assim também tocam fundo o ator e humorista David Pinheiro, que interpreta Herodes desta vez, mas em ocasiões anteriores chegou a substituir Tonico em cena no papel de Judas.

— Sou católico e me orgulho disso. O Brasil é um país de tradição católica . Não entendo essa onda evangélica… Vou à missa sempre que posso — diz.

Responsável por dar vida a São João Batista, que foi quem batizou Jesus, seu primo, nas águas do Rio Jordão. Roberto Frota diz se comover com o homem declarado santo “por sua dedicação”. Já Luiz Nicolau, o Caifás da montagem, comemora mais um malvado em sua galeria de personagens:

— Na novela “Jesus”, da Record, vivi o Comandante Heitor, guardião de Herodes que corta a cabeça de João Batista. Agora, sou aquele que provoca um circo político para convencer Pilatos a condenar Jesus. E consegue. Eu gosto de fazer os vilões!

Enquanto a bailarina Ana Botafogo, que dará vida a um anjo na montagem, se diz extremamente católica e chocólatra assumida, Isadora Ribeiro, que interpretará umas das mulheres de Jerusalém, costuma frequentar a Igreja Adventista Judia Cristã, em São Paulo, e vai na contramão da paixão da maioria pelo doce com que mais se presenteia na Páscoa.

— Realmente não gosto de chocolate! Desde criança, nunca apreciei, alguns até se surpreendem. Na Páscoa, eu tento ficar ainda mais em comunhão com o Espírito Santo, meditando sobre o grande sacrifício que Jesus passou. E esse sofrimento da sua morte e ressurreição significa que, quando pecamos, sempre teremos a oportunidade de nos redimir e tentar outra vez — ensina.

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