PANDEMIA: Coesão ou desintegração social no Brasil
Por: Zulu Araújo
Emile Durkheim, nascido na França no século XIX, era filósofo, psicólogo e sociólogo francês que juntamente com Karl Marx e Max Weber, formaram o que se convencionou chamar o trio de ouro da sociologia moderna. Ele realizou estudos importantes para que pudéssemos compreender as engrenagens e os mistérios de sociedades complexas como a que vivemos nos dias atuais.
É dele a definição de uma percepção muito difundida atualmente, a chamada coesão social. Para Durkheim, a coesão social existe quando um grupo de indivíduos compartilha objetivos, ações, ideias e crenças e esse compartilhamento possibilita a existência do grupo. O contrário é chamado de desintegração social e quando isso ocorre, temos como consequência a extinção do grupo social. Mais ainda, segundo o autor, coesão social, não é algo necessariamente positivo, vide o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália, em meados do século
passado.
No início da Pandemia mundial, em particular no Brasil, algumas expressões foram largamente difundidas por comunicadores, influencers e lideranças políticas e religiosas de praticamente todas as correntes, pelos variados veículos de imprensa, redes sociais. Uma dessas expressões era a da coesão social. Afirmava-se, de forma convicta, que a Pandemia provocaria uma maior coesão social, devido ao espírito solidário inerente ao povo brasileiro. Muita gente de boa-fé e má-fé acreditava que a Pandemia seria debelada, num passo de mágica ou num ato de vontade da generosidade humana.
E que essa generosidade imantaria a tudo e a todos de forma jamais vista na sociedade brasileira. Passado mais de um ano de Pandemia, a sociedade está exausta, irritadiça, atemorizada e parte significativa dela se pergunta: até quando vamos aguentar essa situação? E mais grave, quase um terço da população brasileira, de forma deliberada e consciente, recusa-se a participar do isolamento social, fazer uso das máscaras, ser solidário com infectados, internados e mortos.
A parte mais endinheirada se recusa também a abrir mão de seus privilégios e expõe seus trabalhadores e subordinados de forma criminosa, cuja grande maioria são pretos e pobres. O argumento é que morrer faz parte do jogo e já que a morte é inevitável não há por que fazer sacrifícios. Em que pese o esforço e as campanhas de determinados segmentos sociais, notadamente os da saúde e comunicação (que deve ser saudado), é visível, tanto nas baladas das elites quanto nos paredões das periferias, que parcela significativa da população está preferindo correr o risco da contaminação que cumprir as regras da prevenção.
Há razões mais do que plausíveis para explicar esse fenômeno e uma delas é a imperiosa necessidade da sobrevivência que a maioria da população está sofrendo, por conta da irresponsabilidade da nossa elite, inclusos aí os negacionistas de plantão, que ignoram solenemente a fome que está se alastrando país afora. Mas, há algo mais profundo corroendo o nosso animus, embora não saibamos explicar exatamente o que é.
O fato é que um indivíduo só colabora com a sociedade, quando essa colaboração o fortalece, fortalece o seu grupo e nessa colaboração há reciprocidade. E é evidente que isto não está ocorrendo no Brasil. Ou seja, o risco de desintegração social, com todas as consequências trágicas nele contida, está cada vez mais próximo e a solidariedade, ferramenta essencial para a garantia da coesão social, é hoje apenas uma figura de retórica no cenário brasileiro.
Toca a zabumba que a terra é nossa!