Para deputado paulista, Professor é pior que traficante

Semana passada, a sociedade brasileira foi brindada com um primor de reflexão política feita por um deputado federal de São Paulo que diz bem da gravidade do momento político que estamos vivendo no Brasil – “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar e levar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior”. Tenho certeza que qualquer pessoa decente desse país considera essa afirmação um absurdo, mas não nos iludamos, por mais absurdo que possa parecer, há milhões de adeptos dessa tese em nossa sociedade e por isso mesmo precisamos enfrenta-la. 

Para alguns o assunto foi motivo de piada, para outros mais uma bobagem sem nexo dita por um deputado despreparado. Mas, não esqueçamos que essa visão foi posta em prática recentemente no Brasil e o resultado foi catastrófico.  Além de causar danos graves e irreparáveis a sociedade brasileira, a educação e particularmente a nossa juventude, deixou um rastro de ódio que ainda não conseguimos apagar. Houve redução do orçamento para educação, as universidades quase fechavam e o desempenho dos estudantes caiu vertiginosamente. Até proposta para extinção das escolas públicas surgiram no Congresso, para que assim nossas crianças ficassem impedidas do convívio coletivo, da sociabilidade e da solidariedade, pilares para a formação de seres humanos civilizados.

É essa visão de que professor é pior do que traficante que alimentou e alimenta a tal da Escola sem Partido, onde professores/as deveriam cumprir a tarefa de estimularjunto aos estudantes à discriminação, a homofobia, a intolerância religiosa e a violência originária de grupos políticos extremistas como ocorre entre fundamentalistas mundo afora. Foi também dessa visão que em vez de se construir bibliotecas e escolas, para mossa juventude se aprimorar do ponto de vista civilizatório, se multiplicou os clubes de tiros, estimulando o porte de armas e a violência contra o próximo. 

E foi também por conta dessa visão que muitos educadores/as foram perseguidos, agredidos e tratados como criminosos piores que os traficantes, dentro e fora das escolas, a ponto de um deles, o Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (Professor Luiz Carlos Cancellier) ter sido levado ao suicídio, após ser acusadocorrupto e humilhado publicamente por uma delegada da Polícia Federal. Apesar de sua inocência ter sido posteriormente provada por meio do Tribunal de Contas da União que afirmou não ter havido qualquer irregularidade praticada pelo Reitor na sua gestão, não só uma vida foi perdida, como uma reputação foi assassinada publicamente.  

Ninguém se iluda, esse tipo de comparação entre professores e traficantes que aparentemente pode parecer esdruxula, possui objetivo e interesses claros em desqualificar a educação e os educadores brasileiros.  Além do conhecimento e da consciência crítica como o caminho para o enfrentamento das desigualdades em nosso país. Racismo, intolerância religiosa, desemprego, fome se enfrenta com a democracia. Tráfico, milícia e violência são ferramentas dessa elite inescrupulosa que deseja manter seus privilégios a qualquer custo e não de quem defende a transformação real da sociedade brasileira. Por isso mesmo, um salve aos nossos professores/as, a educação brasileira e a Democracia. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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