Para quem Não o Conhece: Muito Prazer, Ele É o Major RD!

Entrevistar pessoas é sempre um prazer, especialmente quando se admira o entrevistado. Conheça o Major RD, um MC que está conquistando corações e mentes com suas rimas poderosas. Para quem ainda não o conhece, ele mesmo se apresenta:

“Boa noite, senhor ouvinte. Então, o negócio é o seguinte: prometo não tomar todo o teu tempo. Eu me chamo Major RD, sou um MC modinha que não vai passar de 2030. Eu vim pra cuspir verdades, se não gostar, cê pode desligar o PC. Eu fundei a Brutang, venci umas batalha de sangue. Com flow flexível, boomerang. E minha ex diz que é por fama, vai se fuder. Vi meu primo Alexandre se envolver no crime e ser morto a paulada, com as mãos amarrada e sem chance de se defender.” (“Favela Vive 5”)

Raça: Major, eu gostaria de saber um pouco sobre você e como começou nesse mundo da música.

Olha, costumo dizer que o rap me escolheu, pois eu não tinha nada a ver com esse rolê. Fui jogador de futebol a minha vida toda e joguei em vários clubes. Até que um dia, do nada, comecei a assistir Batalha de Rima pela internet. E, então, resolvi ir para ver de perto. Sempre gostei de rap, ouvia por causa do meu pai, que também curtia, mas nunca me imaginei cantando ou fazendo shows. Na verdade, nunca quis isso.

Então uma vez fui assistir a uma das batalhas, pois estava parando de jogar futebol, e acabei indo por curiosidade. Lá eu costumava dar apelidos às pessoas e rimar, brincando. Foi quando, de brincadeira, faltou um cara para rimar, apontaram para mim e disseram: “Aquele ali estava rimando, zoando todo mundo”. Fiquei assustado, pois não tinha experiência em rimar. Acabei indo, mesmo com vergonha, e fui mais vezes, ganhei algumas delas, e hoje estou aqui. 

Foi nesse ambiente que conheci Xamã, Estudante e outras pessoas que estavam começando na época, e começamos a andar juntos. Cada um seguiu seu caminho, e agora estou aqui conversando com você. Mas a culpa de tudo foi daquele cara que me fez rimar.

Raça: De onde surgiu o nome Major?

Major: O nome Major veio do personagem Major, do filme “Hooligans”. Eu costumava arrumar muitas confusões quando era mais novo. Uma vez, arrumei uma confusão na escola e eu costumava dizer que ia fazer como o personagem, e as pessoas sempre diziam: “Tomara que ele apanhe e pare de se chamar de Major”. O pessoal queria que eu parasse com isso, mas eu continuava. Quando havia outros caras com o nome Rodrigo (RD) na escola ou no bairro, o pessoal sempre se referia a mim como “o Major”. Então, quando fui lançar minha primeira música, percebi que ao colocar “RD” no título, havia muitos outros artistas com o mesmo nome. Então, escolhi o nome Major, que soava mais diferenciado.

Raça: Suas músicas têm uma grande influência do rock, certo? Como isso aconteceu e por que o rock?

Major: Comecei a ouvir rock por influência do meu pai. Sempre escutava rock enquanto jogava videogame ou ia para a escola com fones nos ouvidos. Quando comecei a cantar, meu estilo era mais boombap, um rap mais lento. Gostava disso e ainda gosto. É o tipo de música que aprecio. No entanto, percebia que nos shows de rap a atmosfera era mais densa, com o público pensativo. Claro, o rap é feito para isso, mas eu achava que era um pouco parado. Quando assistia a shows de rock, ficava impressionado com a energia, a galera pulando e se divertindo. Então, tive a ideia de misturar os dois estilos, fazendo rap e trap com uma vibe de rock, com o público pulando e, ao mesmo tempo, abordando questões interessantes.

Raça: Sabemos que a batalha de rimas é importante, e no Rio de Janeiro, se não me engano, chegaram a proibi-la. Como você vê a importância de proteger as batalhas, principalmente por você ter começado nelas?

Major: A batalha de rimas é como a escola do MC, é a autoescola do rapper. Aprendi muitas coisas participando dela. Alguns dizem que tenho uma grande presença de palco, e isso veio das batalhas, onde muitas vezes eu batalhava em locais onde não era o MC principal. Tinha que ganhar a batalha apenas com minha presença, provocando o público ou roubando a atenção do outro MC. Às vezes, eu fazia gestos legais ou criava momentos engraçados no palco para ganhar o apoio da plateia. A batalha me ensinou a lidar com imprevistos em shows, como problemas com o microfone, e a interagir com o público de maneira criativa. Acho que a batalha de rimas é uma escola do rap, e isso deveria ser valorizado.

Raça: Suas letras abordam o cotidiano, sua história e questões raciais, e vai muito ao encontro do que a Raça vem trabalhando, com a questão da vivência negra.

Como você consegue incorporar essas temáticas de forma tão clara, mesmo que possam parecer grosseiras para alguns?

Major: Eu costumo dizer que sou um repórter da minha área. Canto sobre o que vejo, sinto, ouço e me contam. Nem tudo que canto é uma experiência pessoal; às vezes, relato o que me contam e me coloco na posição de terceira pessoa. Assim, consigo captar a sensibilidade das situações e transformá-las em música. É como ser um repórter, registrando o que acontece à minha volta. As pessoas que compõem são sensíveis e conseguem transformar experiências em arte, seja música, filmes, séries ou histórias. 

Raça: Nós temos notado que o cenário do rap, do trap, tem crescido nos festivais. Por exemplo, no Lollapalooza e no Detonafest, a presença deles foi muito maior do que nos anos anteriores, não é mesmo? Também tem crescido a questão da diversidade, pois antes costumava haver sempre os mesmos rostos, e agora há uma maior diversidade nesse cenário. Como você tem percebido isso?

Major: Olha, acho que o movimento do trap, e do rap em geral, tem se espalhado. E quando falo de trap, é porque é o gênero mais consumido atualmente, mas me refiro ao rap como um todo, está se popularizando bastante no Brasil e crescendo muito.

Raça: Também temos percebido.

Major: E essa parte de sempre termos as mesmas figurinhas carimbadas é um pouco culpa dos contratantes, que repetem a mesma fórmula. E muitas vezes o contratante nem me conhece. Às vezes, ele nem conhece o rap, não sabe quem sou. Ele apenas viu um vídeo ou um show lotado em algum lugar e quer algo similar em seu evento. Ele quer aquela energia, aquele público agitado. E, na verdade, ele não se preocupa de onde venho ou o que faço. Se eu for ao seu evento e fizer algo muito diferente do que ele viu nos vídeos, ele ficará desapontado e dirá: “Isso não é o que contratei”.

Raça: E esse é um problema da indústria, não é?

Major: Compreende? Portanto, a culpa disso recai em parte sobre os organizadores de eventos, que muitas vezes são pessoas com poder financeiro, para não dizer “playboys”. Eles não estudam realmente a cena do rap. Eles seguem o que está em alta, o que vende ingressos, e não se aprofundam na cultura. É nossa responsabilidade, como artistas, nos adaptarmos da melhor forma possível, sem comprometer a mensagem, para participar desses eventos. Não é viável confrontar os organizadores de grandes eventos, então precisamos usar a cabeça e encontrar maneiras de nos apresentar nesses locais. Quando conseguirmos, poderemos transmitir nossa mensagem. Para responder à sua pergunta, a culpa em parte é dos organizadores que não se aprofundam na cena do rap e não estudam o underground.

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