Participação negra nas Olimpíadas: os primeiros passos.

Colunista: Zulu Araújo

Ancorado nas teses do racismo científico e da eugenia, que colocava a população negra na base inferior da pirâmide racial, a presença negra nas Olímpiadas, só veio a ocorrer, e de forma absurda, na sua terceira edição em 1904.

É bom lembrar que isso ocorria numa época onde “A força da ciência era a força do Ocidente.), conforme afirma o Professor da UFBA, Renato da Silveira, em seu Ensaio: “Os Selvagens e a Massa: Do Racimo Científico na montagem da hegemonia Ocidental”.

Nas origens do Racismo Científico, temos, por exemplo, nos idos de 1789, o revolucionário francês Voltaire, “defensor das liberdades individuais e da tolerância” e que defendia que as pessoas deveriam ter garantidas “o direito à liberdade de expressão, à liberdade religiosa e à liberdade política”, afirmando o seguinte:

“A grande questão entre eles [os negros] é se são descendentes dos macacos ou se os macacos descendem deles. Nossos sábios disseram que o homem é a imagem de Deus: eis aqui uma curiosa imagem do Ser eterno, um nariz negro achatado, com pouca ou nenhuma inteligência!”

Detalhe importante: Voltaire, além de revolucionário, era traficante de escravos. Ou seja, Liberté, Egalité e Fratenité, no seu entendimento, era para os brancos europeus e não para todos os seres humanos. É nesse ambiente intelectual e científico da nobreza europeia que nasce e se desenvolve as olímpiadas no final do século XIX.

As mulheres, que também tinha sido objeto de discriminação, foram contempladas um pouquinho antes, em 1900, nas Olimpíadas de Paris. Nesta edição, duas mulheres francesas, Filleaul Brohy e Marie Ohnier, disputaram pela primeira vez os jogos olímpicos, bem como a inglesa Charlotte Cooper foi a primeira mulher a receber um ouro olímpico, ao vencer a final simples e de duplas mistas no tênis.

Mas, diferentemente das mulheres, a primeira participação negra nos jogos olímpicos, só veio a ocorrer na Olímpiada de 1904, em St. Louis. Participação desastrosa e preconceituosa, por conta da forma como os organizadores do evento a realizaram.

Para confirmarem que os negros eram inferiores, fizeram um evento paralelo, chamado de “Dias Antropológicos”, jogos disputados por membros de tribos africanas e índios americano. Pegaram dois homens da etnia Zulu, (Lentauw e Yamasani) da África do Sul, que estavam participando de uma Exposição na cidade no mesmo período e os colocaram para disputarem uma maratona, descalços e com chapéu de palha.

Claro, foi um vexame total e serviu tanto para o achincalhe dos africanos e indígenas, motivos de risos e chacotas, como também para que a Enciclopédia Britânica, renomada publicação cientifica da época, afirmasse de forma categórica a inferioridade dos negros nos esportes.

É muita sacanagem desde sempre!

Mas, uma olímpiada depois, 1908, em Londres, os atletas negros deram sua resposta, também de forma categórica.  John Taylor, (John Baxter Taylor, Jr), médico veterinário, norte americano, tornou-se o primeiro negro campeão olímpico nos 400 m rasos, ganhando também a medalha de ouro no revezamento misto.

Para os atletas negros brasileiros, a odisseia foi um pouco mais longa. Afinal, o racismo brasileiro sempre foi mais resiliente, em que pese a sua desfaçatez. Só nos Jogos Olímpicos de Paris-1924, portanto, 28 anos após o seu início, é que o primeiro atleta negro brasileiro, Alfredo Gomes (neto de escravizados), participou de uma olímpiada no atletismo.

Já a presença de uma atleta negra brasileira, só veio a ocorrer em 1948, no pós-segunda guerra mundial, com Melânia Luz, paulista que também disputou no atletismo. O dobro do tempo da presença de um atleta negro, demonstrando mais uma vez que a clássica junção entre o racismo, machismo e patriarcalismo, faz estragos há muito tempo.

Fiquemos por aqui, pois no próximo capítulo tratarei sobre as Olímpiadas de 1936, quando o auge do racismo científico se faz presente nos Jogos Olímpicos, por meio do nazismo.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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