Perfil: “Representatividade é caráter, índole e ética”

por FLAVIA CIRINO

Matéria da edição 200/2019

JONATHAN AZEVEDO

fotos: ELVIS MOREIRA

Sabiá voou alto e fez de Jonathan Azevedo um ator conhecido nacionalmente, embora já esteja na estrada desde 2006, atuando na tv, no cinema e investindo até na música. Dono de uma admirável autoestima e astral maior ainda, o ator é carioca e tem 36 anos.

Na produção, ele foi o petroleiro Fiapo, melhor amigo de Dante (Cauã Reymond). Grato por todas as mudanças em sua vida a partir do personagem à margem da lei que viveu em A força do querer, Jonathan contou à raça que voltou totalmente diferente em seu novo papel.

“Essa série foi outro presente que ganhei. Além do personagem, tem uma galera que conheci no cinema quando fiz o filme do José Aldo. E encontrei um irmão, um amigo na vida, o Cauã Reymond. Meu personagem é o Fiapo, um revolucionário que luta pelos direitos dos petroleiros. Ele ainda participa de um triângulo amoroso.”

Por conta da série, o ator teve que dar adeus aos longos dreadlocks.

“Mudei o cabelo com meu dreadmaker, em São Paulo. Eu tinha muito amor por aquele cabelo, foram cinco anos! Mas esse novo visual deu um ar mais alegre. Era muito grande, sentia muito calor.”

Envolvido com causas sociais, Jonathan tem sido um exemplo para as crianças da comunidade Cruzada São Sebastião, no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, onde foi criado. Além de estar sempre por perto, levando cultura e entretenimento, o ator leva as crianças para passear. Foi assim, por exemplo, no lançamento do filme Pantera Negra. Entre pipocas e refrigerantes, 100 crianças ficaram encantadas com a oportunidade de ir ao
cinema e ver o herói negro na telona.

“A maior realização da minha vida é unir pessoas. Não importa a cor, classe social, o que importa é a troca de experiências e isso me ajuda a ser cada vez melhor. Representatividade é algo muito novo pra mim. Dentro da minha comunidade sempre houve esse foco. Se eu quisesse surfar e ninguém tivesse prancha, eu dava um
jeito de conseguir. Conheci muitas pessoas no Leblon pedindo prancha emprestada. Logo ganhei uma e passei a emprestar aos meus amigos. Essa função de referência é uma troca. Sempre tive pai e mãe muito guerreiros, trabalhadores, eles sempre foram minha referência, assim como meu irmão, Vitor, que sempre trabalhou e estudou muito. Fui estudar um pouco e conquistei um filtro melhor pelas pessoas. Eu via o que eu queria: a energia das pessoas, o amor, o compromisso. Representatividade é um misto de tudo o que a gente consegue viver e levar para o lado positivo. Bom caráter, índole e ética. Eu me cobro muito em relação a minha ética.”

O amor pela arte nasceu da dor. O ator descobriu, através de uma vizinha irritada por ele ter jogado a bola na janela dela, que havia sido adotado. A revolta foi inevitável. Só depois de se matricular em um curso de teatro, de forma praticamente forçada, sua vida mudou. Para ele, fazer algo em benefício das crianças de sua comunidade é também um ato de gratidão.

Uma música do Emicida diz que você pode sair pra conquistar o que você quiser, mas jamais volte para a sua quebrada de mãos e mentes vazias.

“O Sabotage diz que respeito é pra quem tem, um bom lugar se constrói com humildade. São pessoas que me ajudaram a assimilar o meu dever como artista e é isso que tento fazer: buscar conhecimento pra levar para as minhas crianças. Sempre houve quem tentasse fazer isso, mas o sistema não dá ênfase e não exalta essas pessoas. Antes de ter sucesso eu já tentava levar algo de positivo pra minha comunidade.

Como diz Platão, tem que sair da caverna e olhar a luz no horizonte, querer buscar mais aprendizado. Quem está pronto, está morto. A cada lugar que vou tento resgatar recursos pra minha comunidade, com essa luz que Deus me deu. Essa é a minha função.”

Em meio a essa “missão”, Jonathan tenta não se deixar levar pelas manifestações de racismo observadas no dia a dia. Driblar o preconceito, ele acredita, é algo difícil. Otimista, o artista vê o lado positivo e procura incentivar a reverter o quadro.

“Não tem como driblar. É só ver a melhor forma de ajudar o nosso povo a refletir com a minha arte. Toda manifestação tem o lado positivo, o povo começou a questionar o que quer de melhor. Sempre acompanho os movimentos, mas gosto de estudar e ver de que forma posso ajudar. Faço uma poesia, canto… toda manifestação que puder deixar um legado em prol das crianças, eu estou envolvido.”

fotos: ELVIS MOREIRA
Além do sonho de ajudar sempre, está o de ser galã de novelas. O ator destaca que será o grande desafio de sua vida, e ele vai encarar na primeira oportunidade que houver.

“Nunca neguei que eu queria fazer um galã numa novela. Amei fazer um vilão, só Deus, muito trabalho e muito estudo fizeram com que o Sabiá acabasse sendo amado. Sempre gostei de desafios e fazer galã será um desafio. Fazer comédia é um sonho! Quero viajar o mundo com moda, estou conhecendo agora e estou muito encantado com o universo fashion. É preciso levar autoestima pra quem desacreditou, pra alguém que viu ou ouviu e falou você não pode. Acordo todo dia pensando que tenho que realizar meus sonhos.

Pensar e agir. Acordo cedo e não sei quando vou dormir até mais tarde, mas sei quando posso realizar meus sonhos. Nem sei até onde posso chegar, o céu é o limite. Quanto mais eu acordo cedo, mais perto estou dos meus sonhos.”

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